Não tenho quaisquer elogios e aproximação ao prefeito Marcelo Crivella. Não gosto de seu modelo de governo, sua omissão em assuntos de extrema importância ao povo carioca como a ineficiente rede de drenagem de águas pluviais que não tem capacidade de escoar a água das chuvas, sua ignorância com o carnaval carioca – a maior festa cultural do mundo que gera bilhões em divisas e arrecadação de tributos ao governo, sua mania de por Deus onde ele não merece ser mencionado.
Fora outras estripulias do prefeito.
Entretanto, sou contrário ao processo de impeachment sofrido por ele e aprovado pelo legislativo municipal esta semana. Fui contrário ao processo de impedimento da presidenta legitimamente eleita Dilma Roussef e fui às ruas contra o golpe parlamentar.
Não podemos banalizar o instrumento político do impeachment. Como as “provas” contra Dilma Roussef eram frágeis pois fazer pedaladas fiscais é de praxe em todos os governos sejam federal, estadual e municipal. O que está em jogo na banalização do instrumento do impeachment é a difícil relação entre os poderes executivo e legislativo. É comum o chefe do executivo construir seu ministério ou secretariado com parlamentares ou indicados por parlamentares para obter apoio nos projetos de governos ao serem enviados ao poder legislativo – é o famoso “toma-lá-dá-cá”.
O cientista político Rudá Ricci pesquisa o que chamamos de Baixo Clero do legislativo, é um bloco de parlamentares, independente de sigla partidária, que ameaçam o governo em busca de apoio, verbas parlamentares e indicações a secretarias de governo e cargos em autarquias e empresas públicas (como a Comlurb). Este bloco de parlamentares de pouca expressão e aparição na mídia. Não possuem uma visão de bem estar à sociedade, apenas visam seus interesses pessoais e a sua base eleitoral.
Por isso militei contra o impeachment de Dilma Roussef, pois o Baixo Clero liderado pelo preso Eduardo Cunha aprovou o processo de afastamento da presidenta da república e o motivo não foi um governo acusado por corrupção e sim por que não quis ceder aos mandos e desmandos do Baixo Clero da Câmara dos Deputados.
Foi uma luta pelo direito de nosso voto, pela democracia e contra a rebeldia do Baixo Clero.
O erro da Esquerda
Partidos de esquerda como o PT e o PSOL votaram a favor do processo de impeachment. Enxergo incoerência nesta atitude e falta de visão e estratégia pois o desgaste de um governo impopular e moribundo como o de Crivella ajudaria o campo de esquerda a ser alternativa à sucessão do pleito de 2020.Parece que ambas siglas de esquerda se esqueceram do trauma que foi o golpe por meio do impeachment em setembro de 2016.
Infelizmente o poder legislativo quando não atendido pelo executivo, pode dar golpe.
No auge do impeachment de Dilma Roussef li um texto que lembrava a oposição de Leonel Brizola ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor em 1992. Brizola foi muito criticado na época mas vinte e quatro anos depois muitos se lembravam da sabedoria do velho Briza ao ver que o executivo, a democracia não podem ser reféns de um legislativo conservador e pouco republicano.
Que a sabedoria e o discernimento pairem sobre as cabeças e mentes para não pagarmos no futuro. Como ocorre agora.