20/07/2021 às 10h14min - Atualizada em 20/07/2021 às 10h08min

O bio-capitalismo e a sociedade de consumo

Sandro Figueredo Silva

Sandro Figueredo Silva

Economia, Política e Sociedade

Patrick Brito
Para começarmos a utilização deste espaço, queremos em um primeiro momento informar que nosso intuito aqui é fazer análises de temáticas que tocam nossa sociedade, e com isso nosso cotidiano. Logo, usaremos do viés da psicanálise para fomentar nossas análises, mas o faremos em um movimento de linguagem que aproxime o leitor, evitando assim textos muito teóricos e herméticos.
 
O título deste nosso primeiro post é claramente provocativo, mas também reflexivo. Neste caso, não se trata de afirmar que o capitalismo seja biológico, mas pensar como tal sistema se apresenta cada vez mais tão intrínseco ao sujeito atual. Temos percebido que na atualidade qualquer discussão que coloque em xeque o capitalismo e a possibilidade do surgimento de outro sistema, é imediatamente rechaçada. Vivemos como se o capitalismo fosse o único sistema possível, quase em um movimento de tornar o capitalismo parte de nossa biologia, ou como se já tivéssemos nascido com o capitalismo em nossos genes.
 
Agora porém, podemos verificar que tal naturalização do capitalismo se faz justamente em meio a sociedade de consumo, como bem escreveu Baudrillard. Sociedade essa, que segundo o autor tem o consumo como uma maneira de viver, em um imperativo á felicidade, quando não podemos mais deixar de sermos felizes. Baudrillard constata que a felicidade pode ser medida pelo consumo, ou seja, pelos bens que você acumula, ou as viagens que você faz, entre outras coisas. Verifiquemos que ser feliz é ter, e ter é ser nesta sociedade atual, logo a existência do sujeito contemporâneo começa a ficar vinculada ao seu poder de compra. O sujeito que se afirma na sociedade atual é o consumidor e é neste lugar e dependendo dos objetos de consumo que lhe prometem completude, que o sujeito coloca a sua ancoragem existencial.
 
Pois bem, já nos seria bastante afirmar que o capitalismo se faz Bio devido a ideia da existência dos sujeitos aparecer ligada à sua posição de consumidor e seu poder de compra. Porém, existe um breve papo mais psicanalítico sobre o Bio-capitalismo. Pelo viés da psicanálise lembremos que a constituição do sujeito se faz no processo em que a criança começa a falar, e com isso tanto seu corpo como suas necessidades são modificados agora pela linguagem, como escreve Lacan. Então um sujeito introduzido no sistema simbólico da sociedade de consumo, apresentará tanto nas demandas, quanto no corpo os valores que tal sociedade implica.
 
Mas não obstante, existe a relação ímpar entre as gerações atuais e os objetos de consumo. Neste quesito, talvez esteja o ponto mais forte deste processo de tornar o capitalismo Bio. Pensemos na sociedade de consumo, em que cada vez mais crianças tem acesso aos objetos tecnológicos, que as divertem, irritam, e fazem o papel de um objeto pulsional. Logo, esses objetos estão cada vez mais sendo a referência imaginaria dessas crianças. E é aqui que queremos mostrar a grande sacada do Bio-capitalismo, pois se para Lacan a constituição do eu do sujeito se dá ao deparar com sua imagem totalizada, assim como a imagem do outro. Agora, tal estagio ganhou uma lente especial: os objetos tecnológicos. Lente essa, que cada vez mais cedo está presente, fazendo com que o eu do sujeito seja constituído no acesso às tecnologias, assim como o júbilo obtido neste processo está ligado a tais objetos.
 
Quando o sujeito tem no objeto de consumo um parceiro da satisfação desde do inicio de sua constituição, teremos uma questão problemática, pois a diferença entre o que lhe satisfaz e o seu corpo só se fará a posteriori. Para além disso, os objetos tecnológicos terão a função de lente que se somará ao processo de constituição do eu, tornando-se intrínsecos ao sujeito, neste sentido tais objetos se postularão como extensões dos corpos atuais. Uma vez que as gerações atuais não conheçam uma vida sem a presença da internet nas interações sociais, e uma auto imagem sem filtros, satisfação sem consumo, e ser sem estar ligada ao consumir, podemos então entender a ideia do Bio-capitalismo.
 
Patrick Brito
Psicólogo clinico formado pela UFF, pesquisador pelo viés da psicanálise, tendo desenvolvido estudos sobre o sujeito contemporâneo e seus sintomas, a sociedade do consumo e novos discursos religiosos. Atuante também em áreas de conflito.
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