16/07/2021 às 18h54min - Atualizada em 16/07/2021 às 18h48min

A Economia do Brasil está se recuperando. Será?

Sandro Figueredo Silva

Sandro Figueredo Silva

Economia, Política e Sociedade

Sandro Figueredo
Hoje o primeiro artigo Sem Economiquês no Jornal Aurora vai falar sobre Recuperação da Economia. Vem sendo passada a informação de que o mundo dos negócios anda melhor, o emprego e até mesmo um ar de que o pior já passou. Mas será que isso é verdade?
     
Vamos juntos fazer uma leitura do atual cenário econômico e de alguns números bem simples para entendermos o que acontece hoje no Brasil.
   
Você já ouviu falar em desqualificação social? Desqualificação social significa, nesse caso, a pobreza e a exclusão do mercado de trabalho. Pois é, desde o início da pandemia, a população viu aumentar o desemprego, a pobreza e a fome, algo há muito tempo não visto de forma tão intensa como agora. Durante os últimos quarenta anos, o Brasil perdeu duas décadas econômicas, as de 1980 e 2010, de forma a frear a renda per capta (renda por pessoa e serve para medir o desenvolvimento de um país) e a queda do PIB (Produto Interno bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país) brasileiro na participação mundial, que era de 3,2% em 1980 e passou para 1,7% em 2010. Mesmo em ritmo menor, a população cresceu, mas os número de vagas de emprego não cresceram na mesma medida.  Mostrei então que estamos em crise há um bom tempo e que a pandemia agravou muito esse quadro.
         
Vimos no ano passado que o Auxílio emergencial atingiu 40% da população brasileira, comparando com o ano de 2019, foram 13 pontos percentuais a mais comparados a outros auxílios recebidos pela população. O que isso significa? Significa que além da população “empobrecida” que já recebia algum auxílio, passa também a se somar a classe média desempregada. Falando em Economiquês, os segmentos intermediários ficaram expostos a um processo nunca visto antes de desqualificação social.
       
Sempre digo que Campos dos Goytacazes é um retrato do Brasil. A nossa querida cidade chegou a 38,31% da população recebendo o auxílio emergencial, ou seja, 117 mil campistas receberam o auxílio do governo.
       
Mas até agora só falei dos momentos críticos vividos. Não é? Vamos então falar daqueles lindos números positivos que vemos nos jornais?

O Brasil apontou um crescimento de 1,2% do PIB nos primeiros três meses desse ano. Isso nos dá uma falsa sensação de que tudo está se resolvendo, mas não podemos deixar de considerar a alta desigualdade, baixa renda, saneamento e falta de moradia como aspectos que influenciam na vida do brasileiro. Além do mercado de trabalho que apresenta números nunca vistos: 33,2 milhões de pessoas subutilizadas (14,8 milhões de desocupados, 6 milhões de desalentados  e 12,4 milhões de subocupados) referente ao trimestre acumulado até fevereiro de 2021, segundo o IBGE. Nesses valores estão pessoas sem emprego, pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais e aquelas que gostariam de trabalhar, mas não buscaram vagas de emprego.

Mas nós esquecemos de considerar os que continuaram em seus empregos. Pois então, esses trabalhadores tiveram os seus salários dragados pela inflação (aumento dos preços). Essa inflação tem afetado principalmente os itens básicos para nossa sobrevivência, no caso, gás de cozinha, os alimentos, energia, combustível e sem mencionar aqueles impostos que tiveram aumento nos municípios e até mesmo reduções salariais e perdas de benefícios.

Lembrei de um fator crucial para um verdadeiro crescimento econômico, o acesso ao crédito. Mas não estou falando de conseguir um empréstimo, estou falando é de crédito a uma taxa de juros baixa. A taxa Selic, que é a taxa básica de juros e que nos dá o norte de como ficarão as taxas médias comercializadas nos bancos e abaixou muito nos últimos 3 anos, mas não conseguimos ver essa redução na ponta. Bom, tenho que considerar que o crédito imobiliário baixou muito né, mas releia os dados que coloquei nos parágrafos anteriores e veja se isso realmente trará algum efeito na nossa economia, te adianto que não.

Falamos até agora de decrescimento da nossa economia, desemprego, aumento dos preços, juros altos e redução da renda. Tudo o que consideramos atrapalha o aumento do consumo, que é o principal pilar para estimular os investimentos e a retomada econômica do Brasil. A crise hídrica pode gerar ainda desemprego no campo e mais aumento dos preços dos alimentos e energia.

Ao meu ver o Governo Federal errou ao não promover grandes pacotes para segurar ou recuperar a nossa Economia e quem está pagando o pato é o brasileiro. Sabe por que isso aconteceu? Porque temos uma Emenda Constitucional, a EC 95, que é a Lei do teto dos gastos. O Governo não revogou esta Lei e não investiu no brasileiro. Uma renda básica de cidadania para todos os brasileiros teria segurado o consumo e mantido parte do investimento e a nossa engrenagem da economia não teria parado como agora. Pacotes para segurar o emprego e as empresas também seriam cruciais para manter o emprego, consumo e investimento.

Nos encontramos “empobrecidos” e sem esperança de uma retomada econômica. Mas vemos todos os dias que as exportações aumentaram, o investimento vem aumentando e  que os bancos lucraram como nunca. Isso faz crescer a economia, mas não traz dignidade para o brasileiro.

O Brasil apresenta uma tímida retomada no CRESCIMENTO econômico, mas está distante de apresentar DESENVOLVIMENTO econômico, que é o que nos interessa na verdade. Sabe por que? Por que é desenvolvimento econômico e social que vai influenciar na qualidade de vida do brasileiro, por comida na mesa de todos e dar solidez a nossa economia.

Então agora eu pergunto a vocês. O Brasil está se recuperando?
 
Sandro Figueredo
Economista
CORECON/RJ - 27528
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