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O Brasil dos Seletivos: Justiça de Fuzil e Política de Blindagem

O Brasil segue sendo um país onde a balança da justiça pesa conforme a cor da pele, o CEP e o saldo bancário. Enquanto os pobres morrem de fuzil, os ricos morrem de velhice — e os políticos continuam blindados sob camadas de foro privilegiado, conchavos e silêncio institucional.

Nas favelas, cada incursão policial parece uma sentença coletiva. Não há investigação, há invasão. Não há suspeitos, há alvos. O Estado chega de helicóptero, atirando antes de perguntar, e sai deixando mães de luto e corpos sem nome. É o “tiro de fuzil” que muitos aplaudem, desde que não atravesse o vidro do condomínio. O mesmo Brasil que se escandaliza com a violência quando um “cidadão de bem” é vítima, aplaude o extermínio quando o sangue é de favelado.

Mas a contradição é gritante: enquanto o pobre é tratado como criminoso até provar o contrário, o político é tratado como inocente — mesmo quando o crime salta das planilhas, das gravações e dos esquemas. Para os poderosos, a lei é interpretada; para os miseráveis, é imposta.
O país que atira sem culpa em quem vende um celular roubado é o mesmo que negocia com ternos e gravatas quem rouba bilhões da saúde, da educação e da vida.

Vivemos uma seletividade perversa: a polícia é rápida com o gatilho, mas lenta com o processo; a justiça é cega para o poder, mas enxerga tudo quando o réu é preto e pobre.
É um Brasil que normalizou o genocídio nas favelas e o esquecimento nas instituições.
Um país onde a “ordem” é mantida pelo medo e o “progresso” é privilégio de poucos.

Essa é a essência do nosso apartheid social: um Estado que se orgulha de matar traficantes, mas teme investigar empresários; que persegue camelôs, mas protege corruptos.
O problema nunca foi o crime — foi sempre o endereço de quem o comete.

Enquanto não houver indignação diante de todas as mortes, enquanto a justiça continuar seletiva e o ódio aos pobres for política pública disfarçada de segurança, o Brasil continuará sendo o país dos brasileiros seletivos: aqueles que pedem paz com o dedo no gatilho e pedem justiça com a carteira na mão.

Danyell Braga

Danyell Braga

Advogado e professor

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