Que a pandemia mudou a vida das pessoas, não é nenhuma novidade. Também não é novidade que a sociedade, como um todo, teve que se adaptar a novos hábitos – como, por exemplo, o ato de comprar online. No entanto, alguns desses hábitos vieram para ficar: muitas pessoas afirmam que continuarão comprando online por acharem uma prática mais fácil, além de terem inúmeras opções de produtos e lojas para avaliar.
É o que mostra a pesquisa realizada pela Kantar, que aponta o Brasil como o país da América Latina que contabilizou o aumento mais significativo nas compras online, subindo 30% após um ano de pandemia do coronavírus. Em 2020, o e-commerce brasileiro teve um crescimento de 75% em comparação a 2019.
Enquanto algumas áreas da economia tiveram maior facilidade com esse processo de migração para o ambiente digital, outras precisaram lidar com obstáculos maiores. O setor automotivo, por exemplo, foi um dos que mais sofreram nesse período. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a indústria automobilística - que vinha se recuperando desde 2018 - teve uma queda de 28,6% no volume de vendas devido à pausa nas produções durante a pandemia.
Além da redução nas vendas, o mercado enfrentou um problema com o fornecimento de insumos necessários para a produção de veículos, principalmente dos chips utilizados nos automóveis. Chamados de semicondutores, eles são utilizados não somente em carros, mas também em smartphones, computadores e videogames, e são responsáveis por desencadear uma corrente elétrica.
Um estudo feito pela Boston Consulting Group (BCG) aponta que, em 2021, a produção automotiva ao redor do mundo terá um desfalque de 3,6 milhões de veículos, que terão suas produções pausadas devido à crise dos semicondutores. No Brasil, que é responsável por 80% da produção na América Latina, a tendência é que nesse ano seja interrompida a produção de cerca de 260 mil veículos.
Nesse cenário, um levantamento da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) indica que os veículos usados tiveram uma valorização de 13% nos primeiros seis meses de 2021. A entidade explica que a inflação sobre o preço dos veículos, juntamente com a queda no poder aquisitivo do consumidor devido à crise, além da pausa da produção de diversos modelos por conta da escassez de semicondutores – gerando longas filas de espera nas concessionárias – fizeram com que os usados se tornassem uma opção mais atraente, preferencialmente os modelos de quatro a dez anos de uso.
Diante de tantos desafios e oportunidades, o mercado automotivo também teve que se adaptar ao “novo normal'' e acelerar seu processo de transformação digital. Afinal, em um contexto de pandemia, seus clientes potenciais não tinham outra alternativa – além da internet – para comprar um carro, especialmente durante os momentos críticos da crise sanitária, com lojas fechadas e proibição de atividades presenciais.
Algumas lojas e concessionárias, por exemplo, adaptaram-se ao modelo online e começaram a oferecer um serviço de test drive virtual, feito geralmente por ligação de vídeo, com um representante da loja filmando o carro em tempo real, mostrando todos os detalhes externos e internos do veículo e tirando dúvidas do cliente. Outros serviços – disponibilizados pelas chamadas “autotechs” – vão além e possibilitam que todo o processo de compra ou venda de um carro seja feito sem que o cliente precise sair de casa.
Quais os benefícios de usar os serviços de uma autotech?
Para Gustavo Braga, diretor da Carupi, uma startup do setor automotivo, além da conveniência proporcionada pela compra online, outro benefício desse formato de negociação é a segurança envolvida. “Quando o consumidor começa a pesquisar carros na internet, uma série de dúvidas aparecem. Além de toda a burocracia existente por trás de uma compra de veículo, há a chance do cliente cair em um golpe, que hoje em dia é cada vez mais comum”, explica.
Além disso, o especialista aponta os riscos potenciais de uma negociação presencial. “Um dos maiores gargalos está na hora do test drive, onde o comprador precisa se encontrar com o vendedor, uma pessoa que, até aquele momento, é um mero desconhecido”, afirma o profissional.