A polêmica ação de marketing da Volkswagen no dia da mentira, primeiro de abril, segundo a qual a montadora alemã mudaria sua marca para Voltswagen, em alusão aos carros elétricos, pode ter uma espécie de mensagem subliminar. As grandes montadoras, consideradas os dinossauros da indústria (mesmo que historicamente empreguem novas tecnologias), estão ganhando espaço entre as startups. Ao menos na visão de investidores.
Com um modelo bem diferente das novas empresas criadas na era digital, com milhares de trabalhadores e enormes fábricas espalhadas pelo mundo, cadeias de suprimento complexas e redes de concessionárias físicas, grande parte delas está fazendo pesados investimentos na produção de carros elétricos e veículos autônomos. E atraindo a atenção de investidores devido ao enorme potencial de mercado para carros movidos a energia limpa e baterias.
As grandes montadoras anunciaram grandes investimentos nessa frente. A General Motors anunciou que vai destinar US$ 35 bilhões no desenvolvimento de veículos elétricos nos próximos cinco anos. A Volkswagen, US$ 42 bilhões no mesmo período, e anunciou que planeja abrir seis gigafábricas de baterias até 2030.
Os investidores, que enxergam a Tesla, pioneira em carros elétricos que recentemente atingiu a marca de 200 mil veículos entregues no trimestre, como uma empresa de tecnologia e aplicam seus recursos baseados no potencial de negócios de seus carros, baterias e software começam a olhar da mesma forma as montadoras tradicionais.
O professor de administração e diretor do Programa de Inovação em Veículos e Mobilidade da escola de negócios Wharton, John Paul MacDuffie, corrobora a ideia de que as montadoras são as novas empresas de tecnologia. Isso porque, embora as empresas de tecnologia sejam os grandes motores da disrupção, no setor automotivo a realidade é diferente.
Projeto complexo e padrões de qualidade e segurança
Segundo MacDuffie, os veículos do futuro serão feitos com recursos elétricos, autônomos e de mobilidade/conexão e seria lógico esperar que as empresas de tecnologia dominassem esse setor, mas elas não estão preparadas para tirar as tradicionais montadoras do banco do motorista. A produção de veículos envolve mais do que as demandas por praticidade e conforto dos clientes. Há uma grande complexidade no projeto que envolve o cumprimento a padrões de segurança, qualidade e emissões, entre outros.
O despertar dos investidores para as montadoras - e os pesados investimentos delas na produção de carros elétricos — não surpreende quando se considera que a venda de carros novos com motores movidos por combustíveis fósseis deve chegar ao fim em uma década. Na Europa, a proposta em análise é proibir, a partir de 2035, não apenas os motores a combustão, mas também os híbridos, híbridos plug-in e a gás natural. É nada menos do que 1,2 bilhão de carros a serem substituídos no mundo.