25/10/2021 às 11h34min - Atualizada em 25/10/2021 às 11h34min

Alfabetização por Paulo Freire

Elias Rocha Gonçalves/Elias Rocha Gonçalves Júnior/Regina Célia Albenaz Siqueira
Foto: Divulgação
Aplicado há mais de 50 anos (1963), o método Paulo Freire de Alfabetização foi testado pela primeira vez na cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte. Recentemente tive a oportunidade de participar de um evento em Portugal, onde membros do Instituto Paulo Freire relataram com detalhes essa incrível experiência, o que me fez vir até aqui e compartilhar com vocês.

A experiência, inédita no Brasil, tinha uma meta ousada: alfabetizar adultos em 40 horas de aula, sem cartilha. Mas não era só isso. Paulo Freire pretendia despertar a consciência política. Desafio lançado, Freire teve todo um contato prévio com os participantes, estudando suas realidades, as histórias de vidas e o contexto em que os aprendizes estavam inseridos. Um grupo de educadores esteve junto de Freire nesta experiência em Angicos.

Antes de tudo, é interessante ressaltar que naquela época, o nordeste que possuía aproximadamente 15 milhões de analfabetos (50% da população nordestina na década de 60). A primeira experiência foi realizada com 300 trabalhadores rurais, sem acesso à escola, e que formavam um grande contingente de excluídos da participação social. Angicos era uma cidade de 13 mil habitantes e 75% eram analfabetos.

O método Paulo Freire estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, através de palavras presentes na realidade dos alunos, que são decodificadas para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. Vale destacar que a experiência era voltada para adultos, mas participaram diversos curiosos, inclusive crianças e adolescentes.

Independentemente das questões políticas e partidárias, o método é muito interessante e de fácil aplicação. E sim, utiliza muitos conceitos andragógicos, os quais defendem muitos educadores que tiveram contato com Paulo Freire, como é o caso de Pierre Furter, colega na Universidade de Genebra durante a década de 70 e que veio posteriormente ao Brasil para estudar e conhecer o método freiriano. Furter é um dos educadores que ajuda a conceitualizar a Andragogia.

Por curiosidade, saiba também que Paulo Freire voltou para a cidade de Angicos/RN, 30 anos depois. No dia 28 de agosto de 1993, Freire conversou com ex-alunos e monitores que o apoiaram durante a formação. Foram compartilhadas diversas histórias de pessoas que, inspiradas por Freire, voltaram a estudar, algumas inclusive, se tornam professoras. Apesar de aplicado entre jovens, adultos e idosos, o método também pôde ajudar na alfabetização e letramento de crianças, e em 40 horas, cerca de 300 pessoas aprendem a ler.
 
Na etapa de investigação, aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia. Em Angicos, foram escolhidas uma média de 410 palavras, que foram descobertas através do bate-papo com os futuros aprendizes. Com isso, uma equipe de educadores define quais são as palavras geradoras. Na segunda etapa, a de tematização, eles codificam e decodificam esses temas, buscando o seu significado social, tomando assim consciência do mundo vivido pelos alunos.

É nesse momento que os educadores fazem associação das palavras com alguma situação cotidiana, conhecida por todos.

E no final, a etapa de problematização, aluno e professor buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido. Compartilhe conosco a sua experiência! Entre em contato com a nossa Coluna “EDUCAÇÃO E SOCIEDADE”, toda segunda no Jornal Aurora.

 
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