10/04/2023 às 14h50min - Atualizada em 11/04/2023 às 00h03min

Pode aquilo acontecer novamente?

SALA DA NOTÍCIA Assessoria
Assessoria
Marcelo Balloti¹
            O título acima é uma tradução literal do excelente livro “Can ‘it’ happen again?” escrito pelo economista Hyman Minky, no qual o autor questiona se há possibilidade de acontecer algo semelhante à grande depressão que seguiu após a o crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Tomarei emprestada a pergunta para analisar os eventos dos últimos dias no mercado financeiro/bancário: pode acontecer novamente um crash no mercado financeiro, como houve em 2008?
            Vamos aos fatos.
            Desde meados do ano passado, os bancos centrais pelo mundo vêm aumentando as taxas de juros básicas da economia para buscar controlar a inflação; nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED) tem seguido essa tendência. O aumento nas taxas de juros torna o crédito mais caro e faz com que os valores dos títulos do Tesouro de longo prazo percam valor.
            O funcionamento da atividade bancária resume-se a: receber depósitos a vista dos correntistas – capital de curto prazo – e aplicar esses depósitos a vista em títulos de longo prazo. E isso faz perceber que há um descasamento de maturidade entre os ativos e os passivos dos bancos.
            Diante destes fatos, o que houve no caso do banco Silicon Valley Bank (SVB) foi uma perda no valor dos investimentos de longo prazo – decorrente da perda nos valores dos títulos do Tesouro. Os clientes, empresas e startups do setor de tecnologia, percebendo as perdas, buscaram sacar os seus depósitos, obrigando o banco a vender títulos (fire sale), com elevados prejuízos. A corrida bancária na ocasião foi a consequência imediata e a falência do banco, inevitável.
            Imediatamente, diferente da hesitação havida em 2008, o FED lançou uma linha de empréstimos de emergência para o sistema bancário, com o propósito de evitar a contaminação sistêmica do problema.
            Embora o Banco Central norte-americano tenha agido de maneira imediata, as incertezas sobre a saúde do sistema bancário/financeiro mundial aumentaram. A aversão ao risco, somada às perdas do setor financeiro associados ao colapso do SVB atingiram um gigante histórico do setor: o Credit Suisse.
            O icônico banco suíço vinha sofrendo problemas há algum tempo em virtude de problemas legais e escândalos de corrupção. Em virtude disso, o banco tem apresentado balanços contábeis decepcionantes, o que provocou uma venda em massa das suas ações, provocando o derretimento dos preços, diminuindo assim o valor de mercado da empresa.
            Uma semana após a falência do SVB, a salvação do Credit Suisse foi orquestrada pelo Banco Central da Suíça (SNB, na sigla em inglês) e a autoridade de supervisão financeira do país (FINMA, na sigla em inglês), para evitar um colapso da instituição e o transbordamento dos efeitos para a economia do país, bem como para o mercado globa. Em 19 de março de 2023, o UBS, grande rival do Credit Suisse, pagou US$ 3,25 bilhões para adquiri-lo.
            O caso do banco suíço trouxe à memória a falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008, e a questão do “too big to fail”. Em tradução literal, um banco é “grande demais para quebrar”, quando a sua falência poderia levar a uma derrocada de todo o sistema bancário local e mundial, dadas as penetrações que o sistema bancário possui derivadas da globalização financeira.
            Naquela ocasião, o governo norte-americano passou um final de semana todo (13 e 14 de setembro de 2008) tentando encontrar compradores para o Lehman Brothers, naquele momento o quarto maior banco de investimento do mundo. A impossibilidade de concretizar o negócio fez com que em 15 de setembro de 2008, o gigante do mundo dos investimentos aceitou pedir falência.
            Ao que parece, as autoridades suíças conseguiram evitar que uma falência de um importante player do sistema bancário mundial transbordasse para o restante do sistema e colocasse o sistema bancário-financeiro global novamente à beira de um colapso.
            O movimento organizado para a compra do Credit Suisse não foi o suficiente para que se dissipasse as incertezas com relação à saúde do sistema bancário mundial. No último dia 24 de março, o gigante alemão Deutsche Bank foi mais uma vítima do pessimismo dos investidores,, com suas ações caindo mais de 8% e as taxas de risco para seus títulos tiveram forte elevação.
            O banco alemão veio ao longo dos últimos anos enfrentando diversas reestruturações e mudanças nas estruturas gerenciais, buscando uma melhor performance, o que não tem se mostrado na prática. No entanto, as autoridades alemãs e europeias afirmam que as posições tanto do banco alemão como do sistema bancário europeu encontram-se favoráveis.
            Diante dos fatos, o momento é de apreensão com relação aos próximos acontecimentos dentro do mercado financeiro global. Embora seja ainda muito cedo para acreditar que possamos estar diante novamente de uma crise financeira de proporções semelhante àquela observada em 2008, não se deve, de maneira nenhuma, descartá-la por completo.
            A condução da política monetária nos próximos meses pode ser decisiva para que a situação caminhe ou não para um Lehman Day. Os Bancos Centrais dos países avançados estão enfrentando um dilema: a inflação persistente elevada e “necessita” de taxas de juros mais altas para seu controle; a taxa de juros mais alta encarece o crédito e traz prejuízos financeiros às aplicações bancárias do sistema bancário. Esse trade-off será fundamental para os rumos do que acontecerá com a economia global ao longo de 2023.
¹ Sobre Marcelo Balloti: Professor de Relações Internacionais na Universidade Anhembi Morumbi desde 2019. Possui graduação em Ciências Econômicas, mestrado em Economia Política e doutor em Ciências Sociais - área 4 (Relações Internacionais e Desenvolvimento Econômico) na Universidade Estadual Paulista. Professor universitário desde 2011, lecionando em cursos de graduação e MBA. Pesquisador das áreas de Macroeconomia, Economia Internacional com foco em União Europeia e BRICS.            


Sobre a Universidade Anhembi Morumbi          
A Universidade Anhembi Morumbi, integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil: o Ecossistema Ânima, oferece programas de graduação, graduação tecnológica e pós-graduação lato sensu e stricto sensu, distribuídos nas áreas de Ciências da Saúde; Turismo e Hospitalidade; Negócios; Direito; Artes, Arquitetura, Design e Moda; Comunicação; Engenharia e Tecnologia e Educação. Seus cinco campi estão localizados nas regiões da Avenida Paulista, Vila Olímpia, Mooca, São José dos Campos e Piracicaba.


Possui laboratórios de última geração e diferenciais como a internacionalidade, já tendo enviado, desde 2006, milhares de alunos do Brasil para realização de cursos no exterior, além de receber centenas de estudantes estrangeiros em seus campi, que se tornaram locais multiculturais para o aprendizado. A Anhembi Morumbi também contribui para democratização do Ensino Superior, ao oferecer cursos digitais com diversos polos dentro e fora de São Paulo. Além disso, o aluno aprende na prática desde o primeiro dia de aula.
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