O papa inicia hoje visita oficial à Ásia onde vai tratar de desarmamento nuclear global, luta contra o tráfico de pessoas além e participar de uma homenagem às pequenas comunidades católicas da Tailândia e Japão.
A viagem terá como ponto alto a visita às cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima. Nestes locais, o papa deve se encontrar com sobreviventes das bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos em 1945.
Francisco é apontado como o papa que mais condenou o uso e a propriedade de armas nucleares e deve repetir o apelo quando visitar as duas cidades. No último domingo, o papa divulgou uma mensagem pedindo para que "o poder destrutivo das armas nucleares nunca mais seja utilizado".
A vontade de visitar as duas cidades tomou forma em 2017, depois de Francisco ver, pela primeira vez, uma fotografia captada em 1945 pelo fotógrafo norte-americano Joseph Roger O`Donnell, logo depois do bombardeio de Nagasaki. A imagem mostra um menino ao lado de seu irmão morto esperando o momento para levá-lo para o crematório.
No último dia desse ano, o papa enviou a fotografia para a imprensa com a mensagem "o fruto da guerra", pedindo que se falasse dos perigos de uma guerra nuclear.
Os bombardeios (6 de agosto de 1945, em Hiroshima, e 9 de agosto do mesmo ano, em Nagasaki) provocaram a capitulação do Japão e o fim da segunda Guerra Mundial em 15 de agosto. Os ataques provocaram a morte de mais de 220 mil pessoas.
Além dos sobreviventes das bombas atómicas, o papa pretende também prestar homenagem às vítimas do desastre de março de 2011, ocorrido na central nuclear de Fukushima. Um terramoto de magnitude 9 provocou um `tsunami` que cortou a energia na central nuclear e suspendeu o sistema de refrigeração. Cem mil pessoas foram deslocadas e um rasto de radioatividade foi deixado por toda a região.
Os bispos japoneses reagiram pedindo, em 2016, a abolição de toda a energia nuclear.
"Desejamos que Francisco fale sobre energia nuclear, já que apela frequentemente à proteção do ambiente", disse o bispo Michael Goro Matsuura.
A visita à Ásia servirá também para reforçar os laços entre religiões nos dois países onde os católicos representam uma ínfima parte da população: 0,59% dos 65 milhões de tailandeses e 0,42% dos 126 milhões de japoneses.
No entanto, tanto os tailandeses como os japoneses esperam fervorosamente que o papa aborde uma outra questão na sua visita: o respeito pela vida, quer através da condenação do tráfico humano na Tailândia, quer pela defesa do fim da pena de morte no Japão.
A Tailândia foi classificada pelas Nações Unidas como um dos mais importantes destinos de tráfico de pessoas, mas também fonte primordial de trabalho forçado e de escravatura sexual.
No Japão, os católicos esperam que Francisco se oponha à pena de morte e que se encontre com Iwao Hakamada, um antigo boxer e ativista dos direitos humanos que está no corredor da morte há quase 50 anos.
O protocolo das visitas papais poderá ainda permitir a Francisco tomar uma posição sobre os protestos em Hong Kong e reforçar as delicadas relações com Pequim.
A expectativa é que seja enviada mensagem ao Presidente da República Popular da China, Xi Jinping no sábado, quando a comitiva papal atravessar os territórios de Taiwan e Hong Kong, na viagem de Banguecoque para Tóquio.
Honk Kong vive há vários meses num ambiente de contestação social, desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta já foi retirada, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, Carrie Lam, uma investigação independente sobre violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.
Além de toda agenda pastoral e política, o papa Francisco também tem um objetivo pessoal para cumprir na viagem.
Na sua juventude, Jorge Bergoglio, nome "terreno" do papa Francisco, queria ser missionário jesuíta no Japão. Um desejo que, se não fosse ter tido uma doença pulmonar, teria alterado o destino do papa, que nunca teria chegado a pontífice da Igreja Católica.
No livro-entrevista "O Jesuíta", dos jornalistas argentinos Sérgio Rubin e Francesca Ambrogetti, Francisco confessou que foi seu espírito missionário que o levou a juntar-se à Companhia de Jesus e pedir para ir para o Japão, tendo sido afastado devido a uma infeção que o obrigou a retirar parte de um pulmão.
O fascínio do papa pelo Japão não advém só da atração generalizada dos jesuítas por aquele país, mas também da sua admiração pela história do cristianismo nesse país, "que se manteve vivo apesar das perseguições sofridas nos séculos XVI e XVII".
"De certa maneira, esta viagem será a realização de um sonho", afirmou o diretor da Asianews, afiliada da agência noticiosa do Vaticano, Bernardo Cervellera.
Atualmente, existem cerca de 536 mil cristãos no Japão, de acordo com o Vaticano, e o número de batismos tem diminuído dramaticamente, passando de 7.193 em 2006 para 518 em 2018.
Esta é a 32.ª viagem de Francisco desde que foi escolhido papa e a quarta à Ásia. O pontíficie esteve nas Filipinas e Sri Lanka em 2014, na Coreia do Sul em 2015 e em Bangladesh e Myanmar (antiga Birmânia) em 2016.