O símbolo na camisa não revela, mas o número de brasileiros competindo no Circuito Mundial é muito maior do que o dos atletas que vestem verde e amarelo e suas comissões técnicas. Isto porque é cada vez mais comum ver técnicos naturais do Brasil representando países como Estados Unidos, Alemanha, Chile e Espanha. Seja para preparar categorias de base e lapidar novos talentos ou para trabalhar com a elite do esporte, profissionais brasileiros encontram no exterior um mercado ávido por seus conhecimentos e que os valoriza como mão de obra de alto nível.
Um dos exemplos mais bem-sucedidos desse intercâmbio é o capixaba José Loiola, atleta olímpico e ícone do esporte com 66 torneios internacionais e 20 medalhas no vôlei de praia, congratulado em 2017 no Hall da Fama do Voleibol, nos Estados Unidos. Atual técnico das duplas americanas Bourne e Crabb, que terminou em 4º lugar no Mundial de Hamburgo, na Alemanha, e Summer Ross e Sara Hughes, 5º lugar no mesmo campeonato, Loiola se tornou um dos mais temidos adversários do Brasil, que amargou esse ano a pior campanha da história do Mundial, sem chegar sequer às semifinais. “Não nego minhas raízes. Me sinto dividido nessas horas. Mas realmente preciso deixar o coração de lado e focar no profissionalismo. Faz parte do jogo e preciso lidar com isso. Aliás, esta situação de ter brasileiros à frente de outros países é cada vez mais comum. O Brasil virou exportador de técnicos”, declarou Loiola.
De fato, Loiola não é o único levantando a bola de times adversários ao Brasil. Guilherme Tenius, o Fiapo, trabalha com a dupla americana April Ross e Alix Klineman; Ricardo Vento coleciona vitórias na Alemanha; Lissandro Carvalho é técnico da seleção feminina e diretor-técnico do masculino na França, com a incumbência de transformar o país em uma potência nas quadras de areia. Tem também Paulo Moreira da Costa, o Paulão, que foi medalhista com a dupla italiana Daniele Lupo e Paolo Nicolai no Rio 2016, e acaba de conquistar o ouro com os primos chilenos Marco e Esteban Grimalt nos Jogos Pan-Americanos de Lima.
"Paulão conhece todos os técnicos e jogadores do circuito mundial, o que é fundamental para poder planejar os torneios. Também trouxe a tecnologia, que era algo que não existia antes. Agora podemos ver vídeos dos rivais", afirmou o presidente da Federação Chilena de Vôlei, Jorge Pino, ao jornal chileno La Tercera.
O desempenho do Brasil no vôlei de praia justifica a alta dos técnicos brasileiros no mercado internacional. O país é o maior medalhista em Mundiais, com 31 medalhas. Atrás estão os Estados Unidos, com 16. Sedentos por mais medalhas, países europeus e sul-americanos e, principalmente, o adversário mais forte, Estados Unidos, passaram a investir pesado no intercâmbio com os melhores do mundo.
Arthur Carvalho, de 29 anos, campeão carioca em 2010 e 2011 na categoria Sub-21, faz parte da nova geração de treinadores brasileiros nos Estados Unidos. Ele foi assistente dos técnicos brasileiros Marcio Sicoli e Marcos Miranda na preparação de uma das melhores jogadoras de todos os tempos, a americana Kerri Walsh Jennings, e hoje presta assistência à campeã olímpica desenvolvendo atletas em seu novo empreendimento esportivo, o p1440. “Os estilos brasileiro e norte-americano se complementam: enquanto o americano é mais tático, o brasileiro joga com raça, persistência e alegria”, diz Arthur que acaba de terminar o mestrado em Business pela Sierra University State, na Califórnia, visando aperfeiçoar seus conhecimentos não só nas quadras, mas nos contratos esportivos. “Para atender a demanda do mercado internacional, não basta ser um bom treinador, é preciso entender o esporte também como negócio”, diz Arthur que segue os passos de José Loiola, que estudou negócios internacionais e finanças nos Estados Unidos visando aperfeiçoar seus conhecimentos no esporte. “Foi-se o tempo em que o atleta se aposentava das quadras com um diploma do colegial e já assumia uma posição executiva no time. Agora, quem almeja ser treinador precisa se preparar para todas as competências do cargo”, afirma Arthur.