13/06/2023 às 19h22min - Atualizada em 14/06/2023 às 00h04min

Ygor Fiori lança “Jantar Cru”, publicação inédita de peça escrita ao longo de quatro anos, com leitura presencial dos atores Nicole Cordery, Francisco Gaspar, Reggis Silva, Fabio Mraz, Luisa Silva, Vera Luz e Ygor Fiori

Dia 17 de junho, sábado, às 11h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade -- Grátis --

SALA DA NOTÍCIA Ofíciodasletras
DOM – A ideia é essa, meu caro. O drama humano é ser parte de uma substância desconhecida, flutuando de forma desamparada e com um desejo instintivo de autopreservação. Você presenciará isso em cada um deles aqui, hoje.
JONAS – O privilégio do EU.
DOM – Boa definição, Jonas. As maiores atrocidades foram cometidas pela intenção de criar um mundo perfeito. O EU querendo mudar o mundo, querendo estabelecer o mundo perfeito para todos. (para LILI) Nos sirva café, por favor. (para JONAS) Não se esqueça de ser o JOE. Seja um ótimo ator essa noite. Faça com que acreditem em sua retórica e gestos até o ponto de lhe conferirem vaias ou aplausos.


Nicho de pouca representatividade no mercado editorial, ao contrário da Europa e dos EUA, onde publicações do gênero são consolidadas, no Brasil são ainda poucas as editoras que incluem em seus catálogos títulos relacionados a teatro.
Muitos artistas da área, entretanto, acabam imprimindo suas obras de forma independente por meio de editais ou verba própria. É o caso de Ygor Fiori, que têm se destacado na produção autoral contemporânea de teatro e lança agora o livro “Jantar Cru”, viabilizado pelo PROAC, dia 17 de junho, às 11h, na Oficina Cultural Oswald De Andrade. Além da leitura do texto, seguido de celebração com os atores e autor, o público poderá levar para casa um exemplar do livro, que será distribuído gratuitamente aos participantes e, posteriormente, nas Escolas de Teatro e Bibliotecas públicas
Jantar Cru, nono texto teatral do autor, dá continuidade às investigações de Fiori sobre o convívio humano em situações limite. Questões filosóficas presentes na teogonia grega a conceitos-chave do existencialismo Sartreano convivem e se imiscuem nas figuras arquetípicas das personagens construídas pelo autor. Neste jantar oferecido por Fiori os leitores não saem impunes às reflexões sobre o futuro e as consequências das escolhas políticas que estão em jogo no mundo contemporâneo. E como diz um dos personagens: “Estamos reféns de toda essa ideia entre quem são os fortes e os fracos. ”
Sinopse

Um jantar acontece num endereço importante da capital de um país. Cada pessoa que participa desta noite foi escolhida a dedo por um anfitrião muito poderoso. Todos os convidados são arquétipos importantes de nossa sociedade contemporânea. 

Uma batalha violenta é travada neste campo estruturado e aparentemente confortável mobiliado com cadeiras estofadas e uma longa mesa de jantar. As armas estão muito bem carregadas com munições de alto calibre retórico e grande poder dialético. 
Todos chegaram ali através de um convite, considerando-se o poder do anfitrião, mas muitos não queriam estar naquele ambiente de maneira alguma. 

Aos poucos, os motivos vão se apresentando tanto pelo convite, quanto pelo desconforto de estar ali. 

De qualquer maneira, as cartas estão na mesa, as regras são colocadas pelo poderoso anfitrião que possui histórias em comum com cada um dos convidados. Essas regras são de certa maneira desagradáveis e por muitas vezes incompreensíveis. 

Depois de um tempo, ali, naquele JANTAR CRU, o grande desafio será a sobrevivência perante o que se conhece e o que realmente existe.

Ygor Fiori é dramaturgo, produtor, professor e ator. É trabalhador da cultura desde 1994. Tem como principal formação artística o CPT (Centro de Pesquisa Teatral) na época coordenado por Antunes Filho. Foi diretor da Cooperativa Paulista de Teatro e trabalhou em diversos grupos e companhias de teatro da cidade de São Paulo. Fundou a Cia Paulistana de Teatro onde estruturou sua pesquisa em dramaturgia e escreveu diversos textos como: Natal em Hiroshima, Lua Para Vagões Passarem, As Pontes que Atravessam a Febre, O Último Bunker, Do Outro Lado da Fronteira, Um certo Riso Amargo pelo Canto da Boca, Música e Psicose, Sonata de Inverno, entre outros contos, ensaios e roteiros. Atua também como ator e produtor na área do áudio visual.


Prefácio por José Cetra

Por meio de trama distópica, o dramaturgo Ygor Fiori mostra, neste instigante Jantar Cru, as estratégias usadas por Dom (homem poderoso e misterioso que se revela maquiavélico e atroz no decorrer da ação) para reunir com objetivo não claramente esclarecido, quatro pessoas de formação e interesses diferentes: Sue, repórter; Will, ex-integrante do grupo político de Dom; Joe ou Jonas, uma figura contraditória a serviço de Dom nessa empreitada e May, jovem feminista, talvez a única personagem com princípios éticos, apesar de sua virulência. Lili, a empregada da casa, cujas ações ao final da peça são fundamentais para o desfecho da mesma, completa a lista de personagens. É curioso notar que as únicas personagens da peça que ainda têm um ideal e lutam por ele, são femininas.
Segundo o autor, o encontro acontece em “uma enorme e requintada sala de jantar de um imóvel localizado na capital de um país em uma época de um futuro próximo”, com o decorrer da narrativa se nota que essa sala está inserida em um bunker de segurança máxima com as saídas lacradas, pois o exterior tornou-se um verdadeiro caos por conta de doenças e revoltas. É fácil perceber que nesse verdadeiro huis clos, muitos conflitos surgirão e questões importantes serão abordadas caminhando para um final que jamais será feliz.
Fiori se apropria de vários temas para contar sua história, valendo-se de diálogos bastante ágeis, mas também de longas intervenções monológicas, principalmente por parte do protagonista Dom.
Mitologia grega, assuntos bíblicos (uma longa cena é dedicada aos quatro cavaleiros do apocalipse), política, pandemias, corrupção, relações familiares (vide as reações das personagens Sue e Will), morte, crenças religiosas (discussão sobre a fé), além de conceitos filosóficos (Platão e Nietzsche, entre outros), do pintor espanhol Goya e até de Cassius Clay, são alguns dos inúmeros pontos abordados por Fiori, que até flerta com o melodrama ao tratar da filiação de May.
Essa mistura poderia se apresentar indigesta, mas o dramaturgo sabe dosar cada um dos componentes com seriedade e equilíbrio e seu texto se revela rico e compreensível tanto para iniciados como para leigos em alguns dos assuntos tratados.
Além de fazer com que o leitor reflita sobre um futuro sombrio resultante de perverso sistema neoliberal, aqui regiamente representado pelos personagens Dom e Joe, outro trunfo deste texto de Fiori é a maneira como ele descreve seus personagens, fazendo com que o receptor chegue a visualizá-los e até imaginar quem poderia interpretar cada um deles numa futura encenação. É claro que, como tantos outros textos teatrais, a fruição completa só acontecerá quando a peça chegar aos palcos, mas enquanto isso não ocorre, deleite-se com a leitura da mesma e tire suas conclusões.
Respire, encha o pulmão de ar e enfrente a distopia cruamente oferecida nesse jantar saído da mente de Ygor Fiori e saia ileso da experiência, se for capaz.
24/03/2023
José Cetra Filho. Pesquisador teatral. Mestre em Artes Cênicas (UNESP). Membro da APCA. Editor do blog www.palcopaulistano.blogspot.com

Projeto contemplado pelo EDITAL PROAC Nº 21/2022 Literatura / Realização e Publicação de Obra Teatral Inédita.

Copyright © by Ygor Fiori
Todos os direitos reservados
Edição, capa e projeto grafico
Geovane Fermac
Ilustrações
Ygor Fiori

Serviço
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – São Paulo.
Lancamento: 17/06, sábado, às 11h.
Ingressos: Grátis. Retirar 1h antes.
Duração: 90 minutos

Obra realizada com o apoio do EDITAL PROAC Nº 21/2022 Literatura / Realização e Publicação de Obra Teatral Inédita.

DOM – Alguma hora você vai entender. Por isso está aqui. Com o tempo entenderemos tudo. O tempo devora todas as coisas. Num primeiro momento parece fúria, mas na verdade pode ser falta de sanidade, medo. Consigo me lembrar das imagens do medo. Sabe MAY, me lembro de uma das pinturas de Goya, uma obra considerada a mais assustadora do mundo, onde ele mostra Chronos numa espécie de desespero, movido pelo medo. E por medo de ser destronado, destroça o corpo de seu próprio filho. Na mitologia, ele engole seu filho inteiro, mas na pintura, ele desmembra, come em pedaços o que pare­ce um corpo feminino. O que quero dizer com isso, é que não podemos fugir do tempo, somos reféns do tempo. Uma hora ou outra seremos devorados por ele.

 
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