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O Desalinhamento da Vontade Pública e o Retrocesso no Fortalecimento do Comércio Local: o Caso da FEPE em Campos dos Goytacazes

A cidade de Campos dos Goytacazes vive mais um episódio que evidencia a falta de sintonia entre o poder público e o setor produtivo local. A tradicional FEPE – Feira de Preços Especiais, organizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), foi cancelada após embargo da Prefeitura, motivado por danos causados ao piso da Praça São Salvador durante a montagem da estrutura. O episódio, que poderia ter sido contornado com diálogo e planejamento, acabou se transformando em um símbolo do descompasso entre a gestão municipal e os interesses do comércio campista.

 

A FEPE, há décadas, tem sido um dos principais eventos de fomento à economia local, atraindo consumidores, movimentando estoques e fortalecendo a relação entre lojistas e comunidade. Seu cancelamento não representa apenas a suspensão de uma feira, mas a perda de uma oportunidade concreta de revitalizar o comércio no centro da cidade, que já enfrenta sérias dificuldades diante do fechamento de lojas e da redução do fluxo de consumidores.

 

Mais do que discutir quem errou tecnicamente — se na montagem da estrutura, na falta de comunicação ou na aplicação rígida das normas municipais —, o que se deve questionar é a ausência de uma vontade pública real em apoiar o desenvolvimento econômico local. Faltou sensibilidade e diálogo para buscar alternativas: remanejar a feira para outro espaço, oferecer apoio logístico, ou mesmo ajustar o formato do evento para garantir sua realização sem prejuízo ao patrimônio urbano.

 

O que se viu, no entanto, foi uma sucessão de desencontros. A Prefeitura agiu com rigidez burocrática, o CDL se viu sem respaldo para readequar a estrutura e a cidade, mais uma vez, perdeu. Perdeu o comércio, que deixará de lucrar em um período estratégico; perdeu a população, que não terá acesso às oportunidades e descontos da feira; e perdeu o município, que mais uma vez demonstrou falta de integração entre o poder público e a iniciativa privada.

 

A situação do centro comercial de Campos dos Goytacazes já é, por si só, preocupante. Lojas fechadas, baixa circulação de consumidores e pouca atratividade para novos empreendimentos refletem uma realidade que exige medidas urgentes de incentivo e revitalização. A FEPE poderia ser uma parte dessa solução, funcionando como motor de dinamismo e otimismo em meio ao cenário adverso.

 

O cancelamento do evento, somado à ausência de uma política clara de fortalecimento do comércio, apenas reforça a sensação de que falta direção e vontade política para impulsionar o desenvolvimento econômico da cidade.

 

Mais do que discutir responsabilidades pontuais, é necessário repensar o papel do poder público como parceiro e facilitador do crescimento local, e não como obstáculo. Campos dos Goytacazes precisa reencontrar esse caminho — o da cooperação, do diálogo e da valorização de quem gera emprego, renda e movimento.

 

Porque, no fim das contas, sem comércio forte, não há cidade próspera.

Danyell Braga

Danyell Braga

Advogado e professor

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