16/12/2021 às 10h28min - Atualizada em 16/12/2021 às 10h28min

Homem Aranha: Sem volta para casa, coloca o público em êxtase com sua estreia impactante(SEM SPOILERS)

Refazendo o Homem-Aranha

Jornal Aurora - Redação
Plano Crítico
Foto: Divulgação/Marvel

Desde que se entende por gente grande, o cinema faz uso de uma forma de contar histórias, de uma rede de símbolos e de uma construção de imaginário que atravessa décadas e integra os muitos ciclos que a Sétima Arte cultiva de tempos em tempos. Na esfera dos filmes de super-heróis, as trilogias passaram a ser coisas muito importantes, e parece que nenhum estúdio, produtor ou diretor tem a intenção que quebrar isso, ao menos por enquanto. Sem Volta Para Casa é um dos exemplos de uso marcante das trilogias no cinema. Terceiro longa-metragem com Tom Holland no papel de Homem-Aranha e também o terceiro longa do personagem dirigido por Jon Watts, No Way Home abraça, sem nenhum medo, o caráter épico que já se espera do encerramento de uma tríade heroica nas telonas, abrindo as portas para um novo momento do Aranha de Holland, totalmente em par com o rebuliço que vem acontecendo no Universo Marvel desde For All Time. Always.

Chris McKenna e Erik Sommers (também velhos conhecidos de De Volta ao Lar e Longe de Casa) se esforçaram para escrever um roteiro que cheirasse a amadurecimento, sempre de olho no caráter simbólico que Sem Volta Para Casa tem para o personagem, desde as interpretações possíveis para o título até as consequências do que isso traz para o Homem-Aranha, transformando-o e fazendo-o sentir coisas que até o momento esse Amigão da Vizinhança não tinha sentido. Fruto de um momento bastante movimento do Universo Cinematográfico Marvel, o herói de Tom Holland foi ingenuamente lançado na tempestade, aprendendo de supetão uma porção de coisas, tendo um tutor que moldou muitos de seus valores e o ajudou amadurecer e sendo colocado em situações grandiosas antes mesmo se entender-se a si mesmo como personagem, algo que atores de outras Eras tiveram em seus filmes de estreia.

A mentalidade dos roteiristas para essa história foi a de usar o tal “empurrão definitivo de formação” justamente em um momento de encerramento simbólico de um ciclo, sendo, pelo menos nesse aspecto, bem sucedidos. Sem Volta Para Casa lida com a revelação de Mysterio para o mundo todo sobre a identidade do Homem-Aranha. O primeiro bloco dramático do filme se ergue a partir das consequências dessa revelação, e temos aqui uma abordagem diferente de Watts para o elenco principal. Holland (que em algumas cenas deixa escapar o seu sotaque britânico), Zendaya (MJ) e Batalon (Ned) estão em um ar mais solene, preocupados desde o início com algo muito sério. As famosas piadinhas-Marvel estão aqui, espalhadas pelo filme inteiro, mas o tom geral é de perigo à espreita, como se o sentido-Aranha estivesse o tempo inteiro ativado.

Essa saída da zona de conforto, desde a abertura do filme, estabelece o tom geral da obra, que empurra Peter Parker para decisões sérias — do contato e acordo com o Doutor Estranho até a percepção das grandes responsabilidades vindas com grandes poderes. A agilidade na montagem e a variação de ângulos utilizados aqui tornam o filme visualmente distinto de seus antecessores, fugindo pelo menos um pouquinho do básico feijão-com-arroz imagético que temos na maioria das fitas de super-heróis. Evidente que o diretor aproveitou a presença de Stephen Strange para literalmente colocar a realidade de ponta-cabeça, utilizando as viradas de câmera e toda a manipulação da realidade e dos pontos de vista a favor da narrativa, algo que é bacana (ao menos como intenção) até nas cenas escuras que nos impedem de captar os detalhes do que está acontecendo na tela. Não é de hoje que a gente se depara e reclama de cenas muito importantes, em filmes e séries, que são filmadas em externas noturnas, com uma fotografia que tenta favorecer certos ingredientes luminosos (aqui, muitos deles causados pela magia de Estranho, mas não só), mas acabam prejudicando todo o restante da sequência, que sempre é longa e simboliza muita coisa para a obra.

Em suas quase duas horas e meia de duração, o filme pena para trabalhar com os seus muitos personagens e histórias individuais; mesmo depois de cenas marcadas por puro didatismo e, ainda pior, por momentos de reafirmação do que já tinha sido dito, para o caso de algum espectador com QI de coqueiro não ter entendido — e não, isso não ocorre apenas uma única vez. Assim, o filme gasta tempo explicando, em vez de mostrar, e o roteiro parece dar muito mais atenção a “explicações de uma vida” para alguns personagens do que fazer com que interajam com os indivíduos do Universo atual do Aranha, o que torna algumas cenas estúpidas e outras simplesmente esvaziadas de sentimento. Há alguns momentos aqui que nos tocam, é verdade, mas isso acontece bem mais pelo “peso canônico” de tais eventos na linha do Homem-Aranha (pensando aqui nos quadrinhos e nos cinemas) do que pela construção ou entrega dessas cenas emocionantes em si. O mesmo ocorre com as referências, que a essa altura do campeonato parece bobagem apontar como algo “barato“, mas é justamente isso que a maioria delas são. Evidente que não deixam de possuir o seu peso de entretenimento, não deixam de levar muita gente à loucura, mas, no fim das contas, de pouco servem para o engrandecimento da história, e a maior prova disso está do fato de serem jogadas fora ou simplesmente escanteadas por um longo período de tempo.

O espectador verá aqui o trabalho já bastante conhecido de Michael Giacchino na trilha sonora, com aplaudível orquestração dramática, tensa e às vezes esperançosa na primeira parte do filme, mas conforme a obra se aproxima de seu clímax, algo mais genérico e manipulador de emoções. Emoções estas que o elenco até que consegue segurar bem em alguns momentos, especialmente Holland, no último ato; mas em compensação ainda temos Zendaya sendo mais fraca que Jacob Batalon, isso porque se exige dela muito mais elementos dramáticos do que do colega de cena, que só precisa exibir a face de amigo do Aranha e fazer algumas exclamações nerds, algo que para a sua capacidade dramatúrgica, ao menos no Universo aracnídeo, está de tamanho adequado.

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa encerra um ciclo do Cabeça de Teia e nos traz outro, com um herói mais maduro e tendo passado pelo que poderíamos chamar de “clássico batismo de fogo“. É um filme fácil de impressionar, pela grandiosidade dos efeitos, pelo que traz de novidade para o espectador e pela densidade um tanto maior da história, em comparação com os outros dois filmes. É uma diversão garantida que está acima da média, mas não muito longe dela. Nessa história de encontrar refúgio onde menos se espera, de lidar com as responsabilidades de suas próprias decisões e entender-se a si mesmo, temos a criação de um novo status de vida, de relacionamentos, de olhar para o mundo e de angústias para o Homem-Aranha. É uma boa escolha para esse Universo e pode servir como uma promessa de tramas interessantes no futuro do Teioso. Os ingredientes para isso a gente já tem. Agora é esperar para ver o que farão com eles no futuro.

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home) – EUA, Islândia, 2021
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Angourie Rice, Arian Moayed, Paula Newsome, Hannibal Buress, Martin Starr, J.B. Smoove, J.K. Simmons, Haroon Khan, Thomas Haden Church
Duração: 148 min.

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