19/11/2019 às 10h38min - Atualizada em 19/11/2019 às 10h38min
Campista namorada de Dario Messer, doleiro dos doleiros, é presa no Rio
Myra de Oliveira Athayde é filha de um ex-vereador de Campos e de uma ex-deputada federal, Alcione Athayde
G1
Reprodução Myra de Oliveira Athayde, namorada do doleiro Dario Messer, foi presa nesta terça-feira (19) na Operação Patrón, desdobramento da Lava Jato no Rio. A Polícia Federal só conseguiu prender Messer em julho por meio de uma investigação que indicava encontros entre os dois no Paraguai.
Outro alvo da Operação Patron é Horacio Cartes, ex-presidente daquele país. Ele terá o nome inserido na difusão vermelha da Interpol. A ação busca pessoas que ajudaram Messer a ocultar dinheiro e fugir das autoridades.
Messer é conhecido como o doleiro dos doleiros e ficou foragido até que a Lava Jato identificou, entre novembro de 2018 e janeiro de 2019, quatro voos de Myra para visitá-lo no Paraguai.
A defesa de Myra informou que só se pronunciará após ter acesso ao inquérito policial e disse que considera ilegal e desnecessária prisão preventiva decretada contra a namorada do doleiro.
No dia 14 de janeiro deste ano, por exemplo, ela foi e voltou para Assunção no mesmo dia, enfrentando quatro horas de voo, no total, para ver Messer.
- Dia 22/11/2018 – voo Guarulhos – Assunção. Não houve retorno aéreo internacional. Possivelmente Myra retornou por voo doméstico ou por via terrestre.
- Dia 28/11/2018 – Guarulhos – Assunção. Retorno no dia seguinte -
- Dia 14/01/2019 – Guarulhos – Assunção. Retorno no mesmo dia
- Dia 28/01/2019 – voo Guarulhos – Assunção. Retorno no dia seguinte
- Myra, amiga dos filhos dele, teria deixado Messer apaixonado, como o doleiro confidenciou a fontes ouvidas pelo G1.
Encontros na Tríplice Fronteira
Namorar um foragido da Justiça acusado de envolvimento na movimentação ilegal de R$ 6 bilhões, no entanto, deu trabalho. E obrigava a garota a marcar encontros também perto da região da Tríplice Fronteira.
Relatórios de inteligência mostram que, em novembro de 2018, Messer esteve em Salto del Guairá. Em 24 de agosto de 2018, também para possivelmente não chamar atenção das autoridades, ela viajou para Dourados, cidade a 100 quilômetros da fronteira com o Paraguai.
Ficou uma semana por lá. Segundo a representação da PF apresentada à Justiça, “há ainda evidências de encontros de Myra Athayde com Dario Messer nas cidades fronteiriças do Brasil e Paraguai, atravessando pela fronteira seca, onde existe um fraco controle migratório.” As pistas sobre o namoro vieram das autoridades do Paraguai, onde Messer tem 11 fazendas, e teria chegado aos ouvidos dos investigadores da Polícia Federal (PF) do Brasil.
Myra tinha se separado em 2018 do ex-marido, e segundo pessoas próximas, durante as viagens para se encontrar com Messer, ela afirmava que ia visitar um namorado fazendeiro.
Ao analisar a incidência dos voos e estranhar as partidas de uma carioca saindo de São Paulo, os investigadores perceberam que estavam no caminho certo até o doleiro.
A PF descobriu que eles realmente tinham um relacionamento, e que ela tinha uma casa em São Paulo: um apartamento nos Jardins, bairro de classe média alta na Zona Oeste da capital paulista.
Os policiais fizeram diligências veladas e, ao conversar com a vizinhança, descobriram que ela vivia com um homem de meia idade, discreto, que mal sai da residência. Era supostamente um médico, o Dr. Marcelo.
Família na política
Myra não é debutante no mundo do poder. De família ligada ao clã de Anthony Garotinho, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, é filha de um ex-vereador da cidade e de uma ex-deputada federal, Alcione Athayde.
A mãe da namorada de Messer também já foi presa, em 2008, dentro de uma investigação da Polícia Civil do Rio sobre fraudes na Saúde, na gestão da ex-governadora Rosinha Garotinho. Alcione é prima de Anthony e era subsecretária de Saúde do Estado à época.
De acordo com as investigações que culminaram nas prisões, foram desviados R$ 60 milhões em um esquema que envolvia a subcontratações fraudulenta de ONGs em ações de Saúde em comunidades pobres.
O Ministério Público afirmou que o repasse de dinheiro público era sacado por representantes das entidades na boca do caixa, e supostamente devolvido como suborno e pagamentos para políticos e demais envolvidos.
Posteriormente, um habeas corpus do STF determinou a liberdade de oito pessoas presas no caso, inclusive a de Alcione Athayde. Na decisão que determinou o HC, entre outros elementos, o tribunal escreveu que as prisões preventivas se apoiaram em elementos insuficientes.