06/03/2023 às 11h33min - Atualizada em 07/03/2023 às 00h36min

Cinco orientações para adotar a linguagem inclusiva no dia a dia, segundo a BrazilFoundation

Abordagem plural é considerada o primeiro passo para dar visibilidade e reconhecimento à diversidade

SALA DA NOTÍCIA Pedro Carvalho

São Paulo, 06 de março de 2023 - O mundo está em constante transformação, e diferentes grupos têm percebido o valor positivo de suas identidades em resposta a um modelo histórico de exclusões sociais e discriminações. Cada vez mais, negras e negros, indígenas, mulheres, feministas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, entre outras, têm se mobilizado na busca por igualdade de oportunidades e direitos e representatividade na vida política, econômica, social e cultural. Nesse contexto, a linguagem vem se consolidando como uma das ferramentas mais importantes para promover a inclusão, a fim de dar visibilidade e garantia de direitos a toda forma de diversidade. 

Não por acaso, a linguagem neutra, por exemplo, tem se popularizado, inclusive na comunicação e em eventos do governo federal, a fim de incluir pessoas LGBTQIA+ como sujeitas e sujeitos. Outra proposta é a linguagem inclusiva de gênero, que visa restaurar a igualdade entre mulheres e homens por meio de discursos, textos e imagens, provocando a incorporação do feminino no mesmo patamar que o masculino em vez de considerar este como universal e agregador da totalidade de pessoas. 

"Para ser inclusiva, a linguagem precisa ser antirracista, antissexista e pró direitos das pessoas LGBTQIA+ e deficientes", explica Isabel Clavelin, gerente do Fundo de Empreendedorismo Negro da BrazilFoundation, organização que promove filantropia estratégica no Brasil. "A linguagem não é estática, está sempre em mutação. As denominações mudam de acordo com o momento e temos de nos adaptar", completa.

Isabel cita o caso da flexão de gênero. "Em um modelo de educação desassociado da equidade, aprendemos desde a alfabetização que devemos adotar o masculino quando nos referimos a um grupo formado por homens e mulheres. Em um país em que as mulheres são maioria, mas têm sua participação apagada, o feminino precisa ser retomado, e dispomos de recursos léxicos que possibilitam fazer essa inclusão, seja adotando a neutralidade de gênero ou, quando a situação pede, utilizando os gêneros feminino e masculino tal como são estabelecidos pela própria gramática e também pelos manuais de redação."

A executiva alerta também para o uso da linguagem pelo viés da negritude, que vem sendo trabalhada histórica e ideologicamente de modo a reforçar o racismo e a estigmatizar a população negra. "Colocações pejorativas como 'o lado negro' ou 'denegrir', além de expressões como 'feito nas coxas', que remetem ao período da escravização e ainda estão muito presentes no falar e no pensar da população brasileira, precisam ser banidas, pois reforçam imaginários coletivos baseados na superioridade racial branca", defende Isabel.

A seguir, cinco recomendações da BrazilFoundation para falar e escrever em favor da inclusão política de pessoas.

1) Evitar o uso do gênero masculino para generalizar situações: o ideal é optar por genéricos reais (idade, grupos sociais, etnias) ou incluir feminino e masculino na construção das frases. Desta forma, em vez de "os indígenas denunciaram violações…", utilizar "os povos indígenas denunciaram violações…". Ou ainda trocar "os trabalhadores reivindicam aumento de salário…" por "as trabalhadoras e os trabalhadores reivindicam aumento de salário…". No caso de substantivos compostos ou adjetivos, sugere-se a concordância nominal com o gênero feminino, redigindo mais próximo ao elemento de concordância. 

2) Evitar generalizações em relação a pessoas com deficiência, utilizando as denominações de acordo com suas condições: em vez de “portador de deficiência ou "pessoa com necessidades especiais", utilizar “pessoa cega", "pessoa surda", "pessoa com síndrome de Down", etc.

3) Evitar termos e expressões de caráter negativo que façam alusão a determinados grupos ou etnias: são exemplos comuns "denegrir", "a coisa tá preta" (alusão às pessoas negras); "judiar" (alusão ao povo judeu); "programa de índio" (alusão aos povos indígenas).

4) Atenção aos pronomes de pessoas LGBTQIA+: se uma pessoa não se identifica com um gênero específico, é de bom tom perguntar como ela prefere ser tratada (ela, ele, elu, etc).

5) Utilizar sempre o nome social: no caso de pessoas trans, respeite sempre o nome social por ela adotado.

Mais informações sobre linguagem inclusiva podem ser encontradas nos links:

https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/estilos/linguagem-inclusiva

https://pji.portaldosjornalistas.com.br/wp-content/uploads/2020/05/GuiaTodxsNos.pdf


 
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