Julho começa com uma notícia impactante para as Relações Internacionais, em especial para a Geopolítica: Boris Johnson renuncia o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, numa conjuntura internacional complexa, instável e muito delicada. Acontecimentos como o Brexit, a pandemia da Covid-19, a invasão russa à Ucrânia e seus respectivos reflexos sobre a econômica internacional são apenas alguns dos componentes que estruturam o pano de fundo de sua trágica trajetória política. Mas, além disso, Johnson também é dono de falas e atitudes polêmicas, importante fator para o desenrolar desta história. Nascido na cidade de Nova Iorque, em 1964, Boris Johnson e sua família se mudaram para o Reino Unido quando ele tinha apenas cinco anos de idade. Durante sua formação, o político britânico teve acesso a instituições de ensino renomadas internacionalmente, como Etton College, escola britânica privada e centenária, e Universidade de Oxford, tradicionalmente frequentada pela classe mais abastada do Reino Unido. Johnson iniciou sua carreira como jornalista, trabalhando para veículos como “The Times” (1987) e “Daily Telegraph” (1989). Posteriormente, tornou-se político, ocupando cargos como vice-presidente do Partido Conservador (2004), prefeito de Londres (2008), Secretário de Estado para Assuntos Externos e da Commonwealth (2016) e, por fim, líder do Partido Conservador e designado Primeiro-Ministro do Reino Unido (2019). No entanto, esses privilégios e currículo não foram garantias de competência e integridade profissional. Além de seu penteado, que se tornou uma de suas marcas registradas, o político é conhecido por se envolver em escândalos. Em seu período no “The Times”, Boris Johnson foi demitido por Fake News, inventando uma citação e a atribuindo a Sir Colin Lucas, renomado historiador de Oxford. Em 2021, apoiou Owen Paterson, político do Partido Conservador, que havia violado regras sobre o funcionamento de lobby no Reino Unido. No mesmo ano, recebeu uma duvidosa doação financeira no valor de R$ 1,5 milhão, para reformar o imóvel de Downing Street, residência oficial do Primeiro-Ministro britânico. Também em Downing Street, foram organizadas 16 festas entre 2020 e 2021, anos em que as regras impostas para o enfretamento da Covid-19 eram severas. Já em 2022, Boris Johnson nomeou Chris Pincher para um cargo no governo, mesmo sabendo que ele havia se envolvido com escândalos de assédio sexual. A reflexão que cabe aqui é a seguinte: o comportamento de políticos é importante para os governos e suas gestões. A sociedade está cada vez menos tolerante aos maus comportamentos em cargos públicos, já que os governantes são representantes do povo, de seus costumes e valores. Espera-se que o caso Boris Johnson, devido ao seu alcance mundial, sirva como recado explicito a todos os políticos do mundo, reforçando a ideia de que os efeitos de atitudes duvidosas não devem passar despercebidas e, principalmente, impunes. *José Benedito Caparros Junior é Internacionalista, Mestre em Educação e Novas Tecnologias e Coordenador de Pós-Graduação nas Áreas de Comércio Exterior e Relações Internacionais na Uninter.