05/06/2019 às 17h50min - Atualizada em 05/06/2019 às 17h50min
A Voz de Campos: programa trás debate sobre crescimento da intolerância religiosa em Campos
O programa contou com a participação do presidente do Fórum Municipal de Religiões Afro-Brasileiras (Frab), Gilberto Totinho e o Téologo, Mateus Rangel
Nos últimos anos, houve um aumento no número de casos de intolerância religiosa no estado do Rio de Janeiro. Segundo dados da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa do Rio (CCIR), Campos está entre as cidades com mais ocorrências registradas em 2019. Só no subdistrito de Guarus, seis terreiros de umbanda e candomblé foram fechados após traficantes impedirem o funcionamento.
No Brasil, intolerância religiosa é crime desde 2007. Ela se caracteriza quando a pessoa não aceita a religião da outra, manifestando críticas, fazendo piadas, ou até mesmo praticando agressões.
Para abordar esse assunto, que o presidente do Fórum Municipal de Religiões Afro-Brasileiras (Frab), Gilberto Totinho e o Téologo, Mateus Rangel, estiveram presentes, na quarta-feira (05), no programa A Voz de Campos, apresentado pelo jornalista Germando Santos, na Rádio Aurora.
O presidente do FRAB iniciou a entrevista explicando a diferença entre candomblé e umbanda na cidade de Campos. Além, de explicar como as matrizes chegaram ao município, à relação de abandono do estado com essas religiões e a questão do racismo na matriz.
“Em Campos, a religião de matrizes africanas é muito antiga. A umbanda é muito presente desde que tempo é tempo na cidade. Agora, o candomblé chega nas décadas de 80. Ou seja, o candomblé é muito novo em Campos. E, por isso temos problemas como ataques”, disse.
“O candomblé surgiu quando os negros africanos foram traficados para o Brasil e postos na condição de escravo, eles vieram com a espiritualidade no seu peito, que se manifesta em resistências culturais, como religião, a dança, a comida, dentre tantas outras coisas. A religião do candomblé tem objetivo fundamental de cultuar elementos da natureza”, disse. “Já a umbanda foi criada com esse sincretismo do negro ter que cultuar o santo católico, de ter que adorar a bíblia protestante, por isso, foi criado para ter uma proximidade com a espiritualidade trazida.”, completou Giberto.
O Teólogo, Mateus Rangel, falou da necessidade do Estado amparar uma pessoa quando ela tiver seu direito violado e de como essa ação seria importante para toda matriz religiosa. “As comunidades religiosas fazem o papel do estado. E este, deveria cumprir os direitos básicos da constituição, de amparar”, afirmou.
O presidente do Fórum Municipal de Religiões Afro-Brasileiras (Frab) também falou da falta de assistência do Estado em relação a matrizes, preconceitos e ataques sofridos:
“Quando falha a assistência do Estado, alguém vai acompanhar isso, e muitas das outras doutrinas religiosas ficam a mercê, e sofrendo ataques de todos os lados. Ataques de intolerância religiosa, ataques de racismo religioso. Para nós das matrizes africanas existe racismo religioso. Porque o preconceito está com a sua matriz, não com o tom da sua pele”, afirmou.
Mateus Rangel finalizou debatendo sobre a grande importância do diálogo entre as diversas religiões para buscarem os próprios direitos.
“Quando pessoas de religiões diferentes se unem como cidadãos, elas conseguem pleitear um direito que está sendo negado tanto a um quanto a outro. Assim, haveria mais paz e a tolerância seria semeada no meio desse diálogo religioso.”, disse.