No final do mês de abril, o MEC anunciou o corte no orçamento da educação, atingindo, desde o nível básico até o ensino superior. As instituições dessa mobalidade de ensino, tiveram como justificativa para o corte, segundo o governo, a promoção de "balbúrdia" nos espaços universitários. Por isso hoje, compartilho aqui abaixo, texto do Professor José Luis Vianna da Cruz, onde ele relata a sua experiência no ambiente universitário e desvenda o que é essa balbúrdia. "VIVA A BALBÚRDIA UNIVERSITÁRIA!
O Governo Federal de plantão está tentando destruir a Educação, com requintes de crueldade. O que está fazendo com o Ensino Superior e as Instituições Federais é um crime de lesa-humanidade, a pretexto de uma certa “balbúrdia universitária”!
Não vou defender a Universidade pela linha do ensino, da extensão e das pesquisas, ou seja, da contribuição para a Ciência, Tecnologia e Inovação. É cinismo e hipocrisia não reconhecer isso, principalmente graças à Universidade Pública e Gratuita.
Vou destacar a Universidade pelo seu papel essencial na formação do cidadão, nos campos da sociabilidade, da cultura, das artes e da política; vou exaltá-la pela linha da liberdade, da crítica, da independência, da autonomia e da luta por um mundo melhor.
Nessa linha, a Universidade é pura balbúrdia. Ela questiona e sacode os valores estabelecidos, as convenções fossilizadas, o conformismo submisso, a subalternidade, a passividade, a falta de crítica, as formas de dominação, a ordem injusta e a alienação. Ao lado da reflexão, do conhecimento, da ciência e da experimentação, é função da Universidade praticar a rebeldia, a indignação e o inconformismo, e se comprometer com as lutas pelas mudanças direcionadas para a construção de um mundo melhor.
Nós, Universitários da Balbúrdia, somos pela contestação da ordem conformista e pela construção de um outro mundo, solidário, democrático, generoso, equitativo e harmônico, em termos humanitários e ambientais. Por isso, marchamos ao lado dos pobres, dos favelados, dos ambientalistas, dos militantes da diversidade de gênero e raça, dos camponeses, dos indígenas, dos sem teto e sem terra, dos excluídos; enfim, das minorias e maiorias invisibilizadas, destituídas e descartadas pelas elites.
Por ser democrática, a Universidade possui todos os defeitos e virtudes. Tudo o que temos, de bom e ruim, é vivenciado e trabalhado publicamente, como numa Democracia.
Na Universidade seguimos leis, normas, portarias, hierarquia, rituais, calendário, organogramas e cronogramas. A pressão por produtividade está sufocando a autonomia e a liberdade necessárias à criatividade. Somos uma das instituições mais engessadas e fiscalizadas da nossa Nação. Toda essa ordem é seguida e contestada, simultaneamente. A balbúrdia é justamente a liberdade e a autonomia na institucionalidade.
A Universidade é, obrigatoriamente, escola de política. E o Movimento Estudantil é um grande formador de cidadãos. Eu comecei minha formação política como Presidente da LAECE, o Grêmio do Liceu de Humanidades de Campos, em 1968, graças ao estímulo da Profa. Arlete Sendra, uma das nossas maiores intelectuais. Continuei minha formação política no Diretório Acadêmico do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, ocupando a Diretoria entre 1975 e 1978, quando me formei. A queda da Ditadura e o retorno da Democracia devem muito à Balbúrdia Universitária. No Norte Fluminense, nós, da galera da balbúrdia universitária, vimos construindo, há décadas, um imenso e eficiente Complexo de Ensino Superior, nacionalmente destacado.
Deixem a Universidade em paz! Viva a balbúrdia universitária!"
José Luis Vianna da Cruz – da Balbúrdia Universitária