Presentes desde quarta-feira (16) na cidade serrana de Petrópolis (RJ), voluntários do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD) trabalham incansavelmente para socorrer cães e gatos que ficaram presos em casas nas áreas de risco ou fugiram e estão perdidos pela cidade. Até o momento, mais de 60 animais já receberam ajuda, mas a médica veterinária e bombeira civil, Carla Sássi, diz que o grupo estima haver ainda centenas de animais precisando de auxílio.
O GRAD, que é uma força-tarefa ligada ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, conta com oito voluntários na cidade atingida por fortes chuvas e deslizamentos, além do apoio em São Paulo de uma das coordenadoras, a médica veterinária e diretora técnica do Fórum, Vania Plaza Nunes. De longe, ela organiza toda a logística da equipe, busca locais de apoio para receber e atender os animais, além de centralizar as ligações com pedidos de ajuda, que serão repassados para o time de campo.
“Muitas vezes, o salvamento é o mais fácil de fazer. O difícil é o que vai acontecer depois, para onde vamos levar o animal, onde ele vai se alimentar. Se estiver ferido, onde vamos conseguir atendimento veterinário”, explica Vania.
Criado pela união de quem se dispõe a largar tudo e dedicar seu tempo para resgatar os animais em situações extremas, o GRAD é composto por médicos veterinários, bombeiros civis, auxiliares veterinários e profissionais de áreas como engenharia, comunicação e TI, que fazem um trabalho totalmente voluntário e já passaram por treinamento dos Bombeiros e da Defesa Civil. Para se dedicarem exclusivamente aos resgates, precisam tirar folga do trabalho ou, como no caso dos profissionais liberais, deixar de trabalhar para estar na linha de frente.
“Diante das questões climáticas e do descaso dos municípios que não tem plano de contingenciamento, resolvemos nos organizar e estruturar o GRAD para agir. Agora, não estamos conseguindo sair de uma situação, respirar, para entrar em outra”, afirma Vania.
Entre os locais que já contaram com o auxílio do grupo após tragédias, estão as cidades mineiras de Mariana, Brumadinho e Rio Casca, além dos incêndios no Pantanal e dos casos de maus-tratos a búfalas, bezerros e vacas em Brotas (SP), Cunha (SP) e Uberaba (MG), respectivamente.
No caso de Petrópolis, toda a arrecadação financeira das doações é direcionada para o pagamento de pessoas que prestam serviço após o resgate, para compra de medicação e ração e para o aluguel de estrutura, além das despesas dos voluntários com deslocamento, hospedagem e alimentação. A necessidade de espaço para abrigar os cães e gatos é uma urgência no momento, e o GRAD pretende alugar um galpão e instalar divisórias para receber os cachorros.
“Tem o resgate que ajudamos a salvar e o tutor consegue ficar com animal e levar para a casa de um amigo, tem os animais que precisam ser encaminhados para o atendimento veterinário e tem aqueles que resgatamos e precisamos de um lar temporário, como a casa de outro morador, um hotel para pets”, comenta Vania.
Infelizmente, segundo ela, muitos são encontrados já sem vida e retirados do local. Em outros casos, acredita-se que o tutor possa ser uma das vítimas da tragédia. O GRAD fez o resgate de três cães presos em uma casa no mesmo momento em que o corpo de uma mulher – provavelmente a dona deles – era retirado. Conforme o grupo, muitos animais encontrados têm tutor, mas a casa onde moravam está condenada.
“Para quem está procurando o próprio animal, existem duas possibilidades: ou ele fugiu, porque eles têm um senso de percepção muito mais aguçado que o nosso e, por isso muitos estão perdidos em locais secos da cidade, ou ficaram presos dentro de casa, nos canis ou em correntes”, alerta Vania.
Médica veterinária, ela explica que a audição e o olfato dos animais são extremamente mais desenvolvidos que os dos humanos. Ao escutarem sons que não estão na capacidade auditiva das pessoas, percebem quando algo diferente está ocorrendo e já buscam alternativas de locais seguros.
Como o GRAD fica temporariamente auxiliando a população nos momentos mais extremos, será necessária a ajuda de protetores locais para encaminhar as dezenas de animais que precisam reencontrar os tutores ou acharem novas famílias. Voluntários que atuaram na região em situação semelhante, há pouco mais de uma década, lamentam presenciar um novo cenário trágico em Petrópolis.
“Precisamos de adoção de políticas públicas para enfrentar situações deste tamanho. O volume de chuva foi enorme, mas será que o estrago e o comprometimento para a vida humana e dos animais teria sido tão grave se tivéssemos políticas públicas que há 11 anos deveriam ter sido iniciadas na região? Quanto os governos têm investido para que se minimize os danos?”, questiona a diretora técnica do Fórum Animal, organização sem fins lucrativos que atua há mais de 20 anos na causa.
Pix para doações ao GRAD: 04.085.146/0001-38