“Com as grandes transformações nas últimas décadas, chegamos em 2021 produzindo muito mais alimentos, que já são suficientes para alimentar todo mundo, mas que não chegam à casa das pessoas mais vulneráveis. É um problema amplo, mas que tem saída. A primeira revolução deve ser interna, individual, da nossa relação com o alimento”, avalia Alcione, que é engenheira de alimentos e já realizou trabalhos de consultoria técnica na área para a FAO e o Ministério da Cidadania.
Para ela, os caminhos para reduzir o desperdício de comida passam pelas escolhas dos consumidores, por políticas públicas para a promoção da segurança alimentar e nutricional, pela melhoraria das condições de transporte e armazenagem dos alimentos e pela diminuição do consumo de carne.
O futuro da produção de alimentos passa obrigatoriamente pela redução do consumo de carne no mundo. Há um consumo excessivo de proteínas de origem animal em alguns países e isso causa um grande impacto ambiental e social. Precisamos repensar, reduzir o consumo de carne e incluir verduras e legumes na alimentação do dia a dia”, afirma.
Ao abrir espaço no prato para novas possibilidades, o consumidor também começa a repensar seus hábitos de compra, passando a desconsiderar a praticidade do alimento pré-pronto e optando por opções in natura, que são mais saudáveis e sustentáveis. Para Alcione, é preciso educar o consumidor para um olhar de todo o sistema.
“Quando nos deparamos com uma gôndola de mercado cheia de alimentos frescos às nove da noite, precisamos saber que o que não for vendido será jogado fora. Temos uma expectativa de oferta abundante, mas isso tem um preço muito caro e quem paga, no final, somos nós, pois tudo isso entra na precificação da cadeia de alimentos. O consumidor espera que os alimentos encontrados nas prateleiras sejam perfeitos, com mesmo tamanho e cor o ano inteiro. A produção de legumes, verduras e frutas por muitas vezes não respeita a sazonalidade, fator extremamente importante na sustentabilidade da cadeia produtiva”, comenta.
Hoje, a startup de impacto social Connecting Food Brasil usa a tecnologia para conectar alimentos que sobram nas indústrias, mercados e restaurantes, sem valor comercial mas que ainda estão próprios para o consumo, com Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que utilizam os produtos doados para o preparo de refeições oferecidas à pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Extremamente necessário para atender a demanda de alimentos para uma população vulnerável crescente no país, o trabalho da empresa busca sanar a ineficiência do sistema de produção e distribuição de alimentos enquanto as outras transformações citadas por Alcione não se consolidam.
“É claro que nem todo mundo hoje está em condições de fazer escolhas de alimentos, mas é muito importante começarmos a buscar informações para uma transformação cultural e de educação. Só assim vamos provocar mudanças na cadeia de produção e distribuição”, defende a fundadora da Connecting Food Brasil.
Sobre a Connecting Food
A Connecting Food é uma startup de impacto social, fundada em 2018, que faz a gestão da redistribuição de alimentos excedentes, sem valor comercial, mas bons para consumo, para varejos, indústrias e restaurantes. Os alimentos são doados para OSCs parceiras, que os utilizam para preparar refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade social. São mais de 500 pontos de varejo monitorados em diversos Estados brasileiros e mais de 350 OSCs beneficiadas com mais de 4 mil toneladas de alimentos, como frutas, legumes e verduras.