Mulheres com fibromialgia muitas vezes têm menos autoestima e uma percepção distorcida de seus próprios corpos. Segundo pesquisadores da Espanha, este quadro pode prejudicar a capacidade de processar estímulos sensoriais e contribuir para a sensação de dor crônica.
O achado foi relatado em um pequeno estudo intitulado "Embodied pain in fibromyalgia: Disturbed somatorepresentations and increased plasticity of the body schema" publicado na revista Plos One.
A sensação de dor é controlada por diferentes elementos. De acordo com o Dr. Marcus Yu Bin Pai, médico especialista em dor, "fatores cognitivos como atenção, antecipação, emoção e memória de dor prévia podem afetar o modo como a pessoa percebe a dor." Imagem e a percepção corporais também podem contribuir para sentimentos de sensibilidade à dor exacerbada ou diminuída." Cada vez mais evidências sugerem associação entre a dor crônica do paciente e uma imagem distorcida do corpo.
Para entender melhor se a consciência corporal está associada à sensação de dor, pesquisadores da Universidad del País Vasco, no norte da Espanha, avaliaram 14 mulheres com fibromialgia e 13 voluntárias saudáveis.
Vários aspectos fundamentais da consciência corporal foram analisados, inclusive a plasticidade da resposta e movimento do corpo, imagem corporal e consciência da atividade normal do corpo.
Notou-se que mulheres com fibromialgia possuem autoestima mais baixa do que seus pares saudáveis, e relatam menos satisfação com seus corpos. Os pacientes tiveram escores mais baixos para todos os itens quando medidos pelo Body Esteem Scale (BES). Regiões do corpo com escores mais baixos foram aquelas que tiveram maior pontuação de dor segundo os pacientes.
Os resultados do Questionário de Percepção Corporal (BPQ) revelaram que os pacientes com fibromialgia tiveram escores bem maiores para: consciência corporal, resposta ao estresse, reatividade do sistema nervoso autônomo e estilo de estresse. A intensidade da dor atual mostrou ter forte relação com a consciência interoceptiva (capacidade de perceber as funções normais do corpo).
Os pesquisadores acreditam que estes resultados "sugerem uma percepção corporal conturbada na fibromialgia, caracterizada por uma imagem corporal instável, cognições com tendências negativas em relação ao próprio corpo, e maior vigilância para sinais corporais internos.".
Não está claro se a consciência corporal alterada e as percepções são causa ou consequência da fibromialgia. Ainda assim, elas podem ser interpretadas como uma resposta à "incapacidade de ler de maneira adequada" as entradas sensoriais recebidas e "atualizar as representações tendenciosas" do corpo e da dor ‘armazenadas como memória de longo prazo", escreveram os pesquisadores.