Participaram da inspeção o infectologista e subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, Charbell Kury, a técnica da Vigilância em Saúde da SES, Cristina Jordano, e a coordenadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Elba Lemos, além de técnicos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Eles também participaram, juntamente com o diretor de Atenção Básica, Rodrigo Carneiro, de uma coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (21), no auditório da Faculdade de Medicina de Campos (FMC), ocasião em que esclareceram pontos da ação e, principalmente, sobre o ciclo de transmissão da doença, dos principais riscos da infecção, bem como os sintomas e sinais provocados pela enfermidade.
"Durante a inspeção foram coletadas amostras de sangue dos moradores e também amostras de sangue de animais como cães para entender, através de inquérito soroepidemiológico, se a bactéria já é endêmica na região", explicou Elba Lemos. As amostras serão analisadas no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e a previsão é de que o resultado seja emitido em uma semana.
Outro ponto abordado pelos especialistas foi a questão ambiental favorável ao agente zoonótico, que no caso da febre maculosa é a presença do carrapato da espécie Amblyomma cajennense ou sculptum, mais conhecida como carrapato-estrela, do caso confirmado; a vegetação (mato alto); além dos agentes amplificadores que são os cães, cavalos, capivaras e etc. "Nem sempre a presença do carrapato significa que tem a doença. O carrapato precisa estar infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii", explicou Charbell kury.
A confirmação da febre maculosa como causa da morte da criança de 6 anos, coloca Campos como área de interesse para monitoramento. A enfermidade não causa epidemia, mas é uma doença de altíssima letalidade. Outros três casos de febre maculosa notificados no município entre 2020 e 2015 foram analisados por Elba Lemos e descartados. "Foram identificados erros de análise, falsos positivos", disse Charbell.
AÇÕES CONJUNTAS – Entre as propostas para monitoramento e identificação de possíveis casos novos de febre maculosa em Campos, está o treinamento dos médicos da rede pública, através do Hospital Ferreira Machado (HFM) e da Unidade Pré-Hospitalar de Travessão, que vai ser a unidade de emergência modelo para o trabalhado de assistência médica. Também será reaberta a Unidade Básica (UBS) de Campelo. A capacitação será realizada pela infectologista Elba Lemos.
Rodrigo Carneiro explicou que Campos, historicamente, nunca foi uma região endêmica de casos autóctones de febre maculosa. O mais próximo é na região Noroeste Fluminense, mais precisamente entre Varre-Sai, Porciúncula, que são locais de endemicidade, com casos periodicamente.
"O que a gente vem percebendo, inclusive nos últimos anos, é que o carrapato vem se deslocando da região Noroeste para região Norte, com aumento de casos suspeitos já em Italva. Então o que pode estar acontecendo são alterações ambientais e no comportamento dos vetores trazendo a doença para cá. O que temos que fazer é aumentar a vigilância, treinar as equipes, principalmente dessas áreas rurais, para que possam identificar a doença inicialmente e implementar o tratamento precoce, o que vai mudar o prognostico do paciente", disse Rodrigo Carneiro.
Também será debatido com o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, Marcelo Feres, a proposta para trabalhar a escola como modificadora do cenário, na parte educacional, inclusive com possibilidade de visitas programadas dos alunos à Fundação Oswaldo Cruz, além do desenvolvimento de campanhas para coletas, por exemplo, de livros para escola da comunidade.
Conforme os especialistas, o carrapato hematófago pode ser encontrado em animais de grande porte como cavalos, capivara, além de cães o que desmistifica que de a enfermidade é exclusive da área rural. "Um carrapato infectado pode gerar entre 7 mil e 12mil larvas (fase inicial do carrapato) que em ambiente favorável evoluem para ninfas, que a fase mais transmissível da bactéria", explicou Elba Lemos, orientando a população a ficar atenta aos cuidados com os animais e seus ambientes. Ao ser parasitado por carrapato, o ser humano deve usar uma gase ou pinça para retirar o artrópode. "Ao segurar o carrapato deve-se fazer o movimento de torção, evitando a inoculação do agente bactericida".
Desde o dia 14 deste mês que a Subsecretaria de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde vem atuando na comunidade Cafuringa para monitorar e evitar o surgimento de novos casos da enfermidade.