15/09/2021 às 14h33min - Atualizada em 15/09/2021 às 14h33min
Surgimento de mais um ratão-do-banhado em SFI acende alarme para a espécie invasora
Jornal Aurora - Redação
Ascom SFI
Divulgação Em um intervalo de três dias, entre quinta-feira (9) e domingo (12), dois ratões-do-banhado (Myocastor coypus) foram encontrados em São Francisco de Itabapoana (SFI), animal raro na região.
Segundo a professora Caryne Aparecida de Carvalho Braga do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que desenvolve pesquisas em ecologia animal com ênfase em ecologia de comunidades e história natural de mamíferos, o roedor tem uma capacidade de invasão muito grande, sendo listada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature's) como uma das 100 espécies invasoras mais daninhas do mundo.
"Os dois indivíduos encontrados em SFI acendem um alarme de que devemos monitorar e buscar mais este tipo de mamífero por lá. Nós nunca registramos ratão-do-banhado por aqui antes, mas existem duas publicações científicas com registro no Estado: no município do Rio de Janeiro e a outra em Três Rios (Centro-Sul Fluminense). Não conheço nenhum outro em área tão ao norte do estado, mas é uma indicação de que a distribuição da espécie está se ampliando", revelou a professora.
Segundo a secretária municipal de Meio Ambiente, Luciana Soffiati, o segundo animal apareceu em Fazendinha, na rua da fábrica de laje, no domingo (12), próximo ao lugar onde estava o primeiro ratão-do-banhado, também encontrado morto, na Estrada da Boca da Areia, na quinta (9). "Após entrarmos em contato com a Uenf, as duas espécies foram levadas para serem analisadas na universidade. Solicitamos caso o mamífero seja visto em SFI que os moradores entrem em contato com o Grupamento Ambiental da Sema, através do telefone (22) 9.8161-6713, que funciona diariamente, 24h por dia", orientou.
De acordo com Caryne, a princípio será feita uma nota para publicar em uma revista científica apontando o aparecimento do ratão-do-banhado no município. "Vamos buscar realizar as medidas necessárias para avaliar se esses registros foram únicos ou se existe mais animais dessa espécie na região. Uma vez que tenhamos preparado toda a documentação necessária para realizar a pesquisa, estudaremos a possibilidade de desenvolver estudo genético que permita avaliar a fonte desses animais. Tudo isso depende de antes termos licença dos órgãos competentes e conseguir financiamento para a realização do trabalho", destacou, acrescentando:
"Minha equipe de pesquisa tem interesse de fazer um mapeamento da espécie em SFI. Só precisamos fazer antes os procedimentos padrão para dar início à pesquisa e a possibilidade de obter recursos. Acabamos de receber a doação desses animais pela Sema, mas já iniciamos o procedimento para pedido de licença e vamos em busca do apoio financeiro. Gostaríamos também de parabenizar a secretaria por ter buscado o apoio científico rápido, o que garante que possamos desenvolver a pesquisa e procurar os meios mais eficientes para tentar controlar a expansão da espécie".
A professora da Uenf ressaltou ser importante que as pessoas saibam que, embora o ratão-do-banhado seja considerado umas das 100 piores espécies invasoras do mundo, não significa que vá atacar pessoas. "Só atacará se tentarem tocá-la. Ela recebe essa classificação porque tem um potencial de se instalar rápido, se reproduz com eficiência e pode causar desequilíbrios no ambiente. Como a maioria dos predadores que poderiam impedir que seus números aumentassem muito rápido, como as onças, já foram extintos nos locais invadidos pela espécie, os ratões têm muito sucesso. Eles são naturais do sul da América do Sul, incluindo o sul do Brasil, mas já se espalharam por grande parte do mundo, ocorrendo como espécie invasora nos Estados Unidos, na Europa e até no Japão. Ela foi levada para esses países para ser usada na produção de pele e carne. No Japão, por exemplo, 150 indivíduos foram levados para produzir peles na década de 1940 e alguns animais escaparam e se estabeleceram no país".