Fadiga avassaladora e perda de energia. Tais sintomas podem estar ligados diretamente à síndrome de Bournout. O termo foi descrito em 1970 como uma condição de exaustão relacionada ao trabalho ou esgotamento profissional, mas apenas este ano a Organização Mundial da Saúde o reconheceu como doença.
O médico psiquiatra Cyro Masci afirma que, embora não existam pesquisas definitivas sobre o número de acometidos, é possível estimar que algo em torno de 30% da população adulta e que trabalha sofra de Burnout. "Isso se forem consideradas também as fases iniciais do problema”, completa.
O médico se fundamenta em estudos divulgados recentemente, como o realizado pelo instituto Kantar Inclusion Index. "Em avaliação de 18 mil funcionários de 14 países, inclusive o Brasil, a pesquisa revelou que 29% dizem sentir sintomas ligados ao problema, como fadiga avassaladora ou perda de energia.”
Masci destaca ainda um trabalho de revisão de artigos publicados no mundo todo. O resultado foi uma incidência que varia entre 40% a 60 % dos trabalhadores avaliados entre 2005 e 2015, de acordo com o trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, de 2015.
Além das perdas financeiras de difícil estimativa, o grande sofrimento de quem padece da síndrome de Burnout leva à necessidade de conhecer os principais sinais e sintomas. Segundo Masci, quanto mais precoce a busca para tratamento especializado, melhores as chances de recuperação.
Indícios
Cyro Masci alerta para os principais indicativos do distúrbio:
1. Grande cansaço e exaustão emocional, que parecem não melhorar com repouso habitual. “Além necessidade de maior esforço para realizar as atividades profissionais, com dificuldade para permanecer engajado no trabalho, ocorre a exaustão emocional, que é um estado de sentir-se drenado nas energias, sem força, motivação ou esperança de tomar as rédeas da própria vida e seguir em frente”, relata o médico.
2. Pessimismo, irritabilidade e cinismo são sinais precoces de Burnout. “Na verdade, trata-se de uma reação automática do cérebro. É como se ele tentasse reduzir o volume de desafios. Assim, o cérebro modifica o estado de humor, que passa a ser irritadiço, ‘pavio curto’, de baixa tolerância numa tentativa automática e inconsciente de afastar as pessoas e situações que estão provocando ou agravando a sobrecarga”, explica Cyro Masci.
3. Perda do foco e concentração. “Esse sintoma de Burnout pode se revelar ao se gerenciar várias tarefas, ou ainda apenas quando a pessoa enfrenta aumento na pressão, por exemplo, diante de expectativas crescentes no desempenho”, acrescenta o psiquiatra.
4. Queda na motivação. “O que antes eram situações desafiantes tornam-se problemas chatos, irritantes e sem sentido. Há uma queda no prazer que o trabalho oferecia. É comum, por exemplo, a experiência de sentir grande desânimo aos domingos, e não se trata da melancolia por acabar o dia de repouso. O motivo principal, e muitas vezes oculto, é a preocupação ou temor de enfrentar uma nova semana de trabalho”, relata o médico.
5. Mudança nos hábitos de sono. “O Burnout pode afetar o sono de duas maneiras. Uma é dificuldade em adormecer devido à preocupação sobre as necessidades do trabalho no dia seguinte. E o cansaço pode ser tanto que o acometido procura a cama tão logo chegue em casa. A exaustão também torna muitas vezes difícil levantar da cama e encarar mais um dia de trabalho”, afirma Cyro Masci.
6. Dores e mal-estar. “Pesquisas recentes indicam que muitas queixas corporais podem estar relacionadas ao Burnout, como dores de cabeça, no estômago ou desarranjo intestinal. Pode ocorrer ainda mudança na pressão arterial ou desencadeamento de doenças como diabetes”, segundo Masci.
7. Perda ou redução no prazer no trabalho. “Qualquer pessoa envolvida com um trabalho que considere gratificante, realizador, sente satisfação quando metas são atingidas, quando soluções são encontradas, celebrando e sendo cumprimentado pelo bom trabalho. O Burnout solapa o senso de realização pessoal, e quem sofre seus efeitos pode sentir-se insatisfeito, infeliz mesmo, apesar do sucesso”, relata o médico.
8. Queda na produtividade. “A capacidade de realizar o trabalho cai muito, ou exige um enorme esforço para manter a mesma capacidade que tinha antes do Burnout se instalar. E, para complicar, muitas pessoas nesse estado tentam superar o problema trabalhando mais duro, mais horas, com mais afinco, o que só aumenta a sobrecarga e piora o Burnout”, finaliza Cyro Masci.
Síndrome de Burnout em mulheres
As mulheres parecem ser mais suscetíveis ao Burnout, segundo trabalho recente realizado na Universidade de Montreal, no Canadá. “O motivo provável é que as mulheres estão sujeitas a condições diferentes de trabalho quando comparadas com os homens. Por exemplo, quando são alçadas a posições que exigem tomada de decisão, mas com menos poder de agir efetivamente, de utilizar suas habilidades e talentos para modificar os acontecimentos”, explica Cyro Masci.
Além disso, pode ocorrer uma mudança na ordem dos sintomas. Segundo o médico, “os homens habitualmente apresentam os sintomas de irritabilidade e cinismo precocemente, enquanto as mulheres relatam exaustão emocional como um dos primeiros sintomas”.
Quando buscar ajuda
Embora a síndrome de Burnout seja uma enfermidade relacionada ao trabalho, “é preciso diferenciar a exaustão que acontece por causa do trabalho da fadiga que pode acontecer no ambiente de trabalho, sem que a atividade seja, necessariamente, a causa principal”, destaca o médico psiquiatra Cyro Masci.
O médico explica que, independentemente da origem, a exaustão não deve ser atribuída como uma consequência óbvia ao estresse. "A partir da instalação do Burnout, ocorre comprometimento de vários sistemas de autorregulação do organismo que exigem auxílio externo”.
Estresse não é o mesmo que esgotamento profissional, e "se há suspeita de Burnout, é hora de procurar profissionais especializados para diagnosticá-lo corretamente e indicar tratamentos que devem ir além dos sintomas, abarcando os diversos fatores que dão origem ao problema”, finaliza Cyro Masci.