Com a safra da cana-de-açúcar (2022/2023) encerrada no último dia 30, na Usina Nova Canabrava – entre os municípios de Campos e São Francisco de Itabapoana —, cerca de 12 fornecedores e fretistas estiveram no final da tarde dessa terça-feira (10) no escritório da indústria para cobrar o pagamento de cheques emitidos, porém sustados pela usina. O valor da dívida da Canabrava com fornecedores chega a R$ 10 milhões.
A cobrança por parte dos produtores rurais, desta vez, não ficou apenas no diálogo. À espera de uma solução, impediram a saída do gerente administrativo da Canabrava, Alex Rossi, e do coordenador agrícola do grupo, Edilásio Manhães que, chamaram a polícia na tentativa de conter os ânimos. Para tanto, os funcionários da Canabrava comprometeram-se receber os fornecedores na manhã desta quarta-feira, às 10h, na usina, acenando com a possibilidade de negociar as pendências.
A Canabrava encerrou a safra no dia 30 de setembro, tendo processado cerca de 400 mil toneladas de cana-de-açúcar, pagando uma média de R$ 100/tonelada. No ano passado – quando entrou em nova recuperação judicial —, a usina chegou a quase 700 mil toneladas de cana moída, no entanto, não foi diferente da safra de 2023. Encerrou as atividades com dívidas junto aos fornecedores e negociando, com pagamento fracionado.
O volume de cana processado em 2023 foi de quase metade da safra do ano passado, com muitos fornecedores temendo entregar a cana na usina e não receber. Diferentemente dos anos anteriores e após entrar em recuperação judicial, a Canabrava não comercializou, neste ano, a energia que gera a partir do bagaço da cana, fabricando apenas o necessário para sua manutenção. O processo industrial foi voltado para a fabricação e comercialização de álcool.
— É uma humilhação o que fazem conosco. Dizem que pagam à vista, colocamos a cana na usina, e quando a gente vem receber, entregam cheque pré-datado. Quando vamos sacar, não tem fundo. Isso é fazer o trabalhador de bobo — desabafou um dos fornecedores.
A Usina Nova Canabrava, procurada, não retornou as ligações.
Recuperação Judicial do Grupo Nova Canabrava No ano passado, alegando crise financeira, a Usina Canabrava entrou com pedido de recuperação judicial, aceito pela Justiça, em agosto. A indústria chegou a ficar cerca de quarenta dias sem um administrador.
O antigo arrendatário judicial, o grupo RLO Soluções Empresariais — do empresário Rodrigo Luppi Oliveira —, que estava na empresa desde 2018, pediu para se desligar no final de junho. O fim do arrendamento se deu junto ao pedido de recuperação judicial da Canabrava.
O atual administrador judicial da usina, nomeado em agosto do ano passado, é a multinacional PWC Brasil. A nova nomeação aconteceu em paralelo ao deferimento do pedido de recuperação judicial da empresa pela Terceira Vara Cível de Campos.
O caso gerou incertezas em funcionários, também moradores de Campos e cidades vizinhas – uma vez que o setor canavieiro é a base da economia do Norte Fluminense —, além de fornecedores que, preferiram, levar a produção para outras usinas, em Campos e no Espírito Santo.
A prova do aquecimento da economia do setor é confirmada pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que sempre registram números expressivos no período da safra de cana-de-açúcar, gerando cerca de 500 novos empregos na cidade, além de quatro mil diretos e indiretos no parque industrial, como é o caso da Canabrava.
Em 2022, a Usina Canabrava moeu cerca de 700 mil toneladas de cana, produzindo cerca de 70 milhões de litros de etanol e 44 megawatts/hora de energia elétrica. Neste ano, a única informação extraoficial foi das aproximadamente 400 mil toneladas processadas e que, muitos trabalhadores estão sendo desligados da empresa.