De acordo com dados do IBGE, em Censo realizado em 2010, o Brasil possuía 6.329 comunidades, espalhadas por 323 municípios.
A grande desigualdade social é um dos fatores originais para criação das comunidades, que se iniciaram em loteamentos irregulares, sem a presença de infraestruturas essenciais, como abastecimento de água, rede de energia elétrica, saneamento básico, transporte público, ruas e calçadas, coleta de lixo e esgoto, postos de saúde e escolas.
Apenas a partir da década de 1980, com movimentos pela redemocratização, as comunidades passaram a ser atendidas pelo Estado, através da reurbanização. Nos anos 2000, com uma economia crescente e estável, permitiu aos moradores das comunidades uma melhoria da infraestrutura de suas casas.
Porém, apesar das recentes melhorias, uma grande parcela da população ainda vive em estado abaixo da linha da pobreza. Os principais problemas são a falta de saneamento básico, habitação em loteamentos irregulares e a baixa de qualidade de vida para a população mais carente.
A atuação das ONGs nas comunidades
Com o processo de reurbanização das comunidades da periferia veio o surgimento de ONGs (Organizações Não Governamentais) que atuam nas áreas mais carentes de desenvolvimento das necessidades básicas, com intuito de melhorar as condições de moradia, educação, saúde, segurança e desenvolvimento social.
Uma área de destaque da atuação das ONGs é a reformulação da paisagem visual das comunidades, através de projetos de arquitetura. A participação dessas ONGs tem melhorado a estrutura, aparência das moradias e a qualidade de vida para muitas pessoas. Confira algumas dessas organizações e como sua atuação tem gerado bons resultados para população menos favorecida:
Decor Social
A Decor Social é uma ONG que atua com reformas e decorações de abrigos de crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social ou à espera de adoção, através da captação de recursos pelo crowdfunding, promovendo um ambiente de moradia saudável.
O primeiro projeto de reforma, realizado em setembro de 2017, foi realizado na Associação Maria Helen Drexel, um espaço que cuida de crianças e adolescentes há mais de 40 anos. O projeto reformulou 14 ambientes, dando uma aparência nova, moderna e aconchegante. O projeto contou com a participação de 19 voluntários e diversas empresas apoiadoras.
Já em novembro do mesmo ano, foi realizado simultaneamente a reforma do 7°e 8°Associação Maria Helen Drexel. Os projetos contaram com a ajuda de diversas empresas e voluntários, gerando um impacto positivo para crianças e adolescentes que vivem no abrigo. Em outubro de 2018 foi realizado a reforma do 6° lar.
Arquitetura na Periferia
A ação de voluntários é de grande importância para a formação das ONGs. Um exemplo é a iniciativa do projeto Arquitetura na Periferia, que teve início em 2013 com a pesquisa de Mestrado da arquiteta Carina Guedes (EA-UFMG). O projeto tem o objetivo de promover a inclusão da mulher no âmbito das decisões acerca da construção da casa e estimular a sua autoconfiança e autoestima.
O projeto visa a melhoria da moradia para mulheres da periferia, por meio de um processo onde elas são apresentadas às práticas e técnicas de projeto e planejamento de obras e recebem um microfinanciamento para que conduzam com autonomia e sem desperdícios as reformas de suas casas.
Caçamba do Bem
Outra iniciativa de destaque é a Caçamba do Bem, um projeto desenvolvido por um grupo de amigas de Curitiba, Paraná. As arquitetas Camila Picoli, Carolina Beckert, Fernanda Heller e a designer Marilia Bender Almeida, em seu convívio em obras, perceberam o grande desperdício de materiais utilizados em construções e que poderiam ser reaproveitados por outras famílias.
Desta forma, surgiu a ideia de realizar, através de doações dos materiais, um bazar beneficente para levantar recursos com o intuito de ajudar na realização de obras solidárias, visando promover e mostrar o real sentido da arquitetura e do design de interiores.
TETO
Podemos destacar a atuação de ONGs como a TECHO, uma organização internacional que atende no Brasil pelo nome de TETO, com atuação em 19 países da América Latina.
Criada no Chile em 1997, com o intuito de construir moradias para famílias que viviam em condições precárias, a iniciativa logo expandiu sua atuação nos países vizinhos.
Com uma visão de criar uma sociedade mais justa, integrada e sem pobreza, a TETO tem por objetivo trabalhar com determinação em conjunto nas comunidades precárias para superar a pobreza através da formação e ação em conjunto com moradores, jovens voluntários e outros atores.
A iniciativa é internacionalmente reconhecida, com diversas premiações devido à sua brilhante atuação nas comunidades. Entre as premiações estão o reconhecimento da ONU, em 2007, como uma das melhores ONGs para parcerias com o setor privado.
Habitat para Humanidade Brasil
Outra ONG de destaque é a Habitat para Humanidade Brasil, com mais de 25 anos de atuação, atendendo as necessidades de mais de 76 mil pessoas em comunidades carentes. Seu objetivo é a promoção da moradia como um direito fundamental.
Fundada em 1992, suas atuações começaram previamente, em 1989, em Belo Horizonte, com a construção de 200 casas no bairro da Liberdade, para atender famílias que perderam tudo que possuíam, devido a uma trágica enchente.
Após transferir sua sede para Pernambuco, com o intuito de estar mais próxima dos locais que mais precisavam de projetos, a Habitat iniciou vários projetos em diversos munícios nordestinos.
Em um projeto de destaque realizado em 2007, na comunidade de Varjada (comunidade rural do município de Passira, no Pernambuco), ela construiu, com o apoio de diversas organizações, 124 novas moradias para a comunidade. Este projeto foi tão impactante que recebeu o Prêmio Nacional de Melhores Práticas da Caixa e o Troféu do Mérito Municipalista da ABM.