Figura fundamental na preservação da cultura e tradição das comunidades indígenas, a mulher indígena é responsável por transmitir o conhecimento ancestral aos filhos e netos. Além disso, ela tem papel fundamental na produção alimentícia, garantindo a subsistência das famílias. No entanto, apesar de sua vital importância, elas ainda enfrentam problemas como violência, desvalorização de sua cultura e saberes, discriminação de gênero e negligência de seus direitos. Diante de tudo isso, sua sobrevivência e resiliência são fundamentais na luta por direitos e justiça social.
Um forte exemplo dessa resistência está na
Aldeia Takua Ju Mirim, em São Paulo. Conhecida como uma extensão da Aldeia Yrexakã - localizada nas proximidades do rio Capivari, principal rio das terras indígenas Tenondé Porã, da etnia
guarani mbiá – a Takua Ju Mirim se diferencia das demais aldeias por ser um
núcleo indígena composto majoritariamente por mulheres. A fim de preservar a cultura e identidade dos povos indígenas, as lideranças locais vêm buscando meios para manutenção dos costumes alimentares e criação de um espaço cultural que proporcione experiências de troca entre seus moradores, outros indígenas e demais interessados.
Com o intuito de ajudar nessa missão, desde o ano de 2021,
o coletivo de artistas e educadores Museu do Inusitado possui uma parceria com essas aldeias, a fim de poder contribuir com o fortalecimento da identidade do local por meio de ações como arrecadação de alimentos, oficinas com crianças e realização de eventos culturais.
O grupo, inclusive, está arrecadando itens como fumo de corda, milho verde, farinha de trigo, fermento, leite, ovos, mandioca, batata doce, peixe, frango, mate, ferramentas para manuseio da horta, fogão, geladeira e guarda-roupa para a Aldeia Takua Ju Mirim. Além disso, doações em dinheiro também podem ser feitas por meio do pix [email protected] Todas as arrecadações serão entregues na Aldeia nos dias 25 e 26/03, datas em que acontecerá um Sarau no local promovido pelo coletivo. De acordo com Luciana Ywá, líder indígena da Takua Ju Mirim, a aldeia é de grande importância para a preservação da cultura e língua materna, bem como para a manutenção das tradições. “É fundamental que preservemos esses aspectos, especialmente para as crianças e jovens que estão começando suas vidas hoje, pois eles representam o nosso futuro. Por isso, é importante que permaneçamos unidos nesse esforço.”
Já para Júlio Guató (Karaí Jekupe, seu nome em guarani), professor de Literatura Brasileira, atuante na valorização, divulgação e resistência das Aldeias Takua Ju Mirim e Yrexakã, as aldeias representam um processo de avanço territorial para os indígenas. “É um testemunho da nossa luta contra o apagamento imposto pela sociedade em geral. Sua importância reside na nossa afirmação como povo e na resistência pela conquista e preservação dos nossos territórios.”
Em relação ao papel desempenhado pelas lideranças femininas indígenas na sociedade atual, Luciana ressalta que, para as mulheres de modo geral, liderar nem sempre foi uma tarefa fácil, independente de viverem ou não em uma aldeia. “Felizmente, nós estamos conquistando mais espaço de liderança, o que representa uma vitória para todas as etnias”. Mas Luciana ressalta que ainda há muito machismo e preconceito a ser enfrentado. No entanto, as mulheres estão mostrando sua capacidade e firmeza de liderança.
Para Júlio, a parceria com coletivos de artistas e educadores é fundamental para fortalecer a comunidade indígena, promover autossuficiência e combater a exclusão imposta pelo poder público. “Há coletivos que trabalham com a autonomia alimentar, correção de solo e agroflorestas, outros, como o Museu do Inusitado, que cuidam da valorização e divulgação da cultura originária através de documentários e eventos, como o sarau, além de buscar parcerias para construção de um espaço pedagógico e cultural para crianças.”
Segundo o músico-educador Luís Vitor Maia, fundador do coletivo Museu do Inusitado, a falta de políticas públicas para os povos indígenas é um problema histórico no Brasil e se reflete em diversas áreas. Esse descaso por parte do Estado gera vulnerabilidade e desigualdade para as comunidades indígenas, além de representar uma violação dos direitos humanos. “A falta de políticas adequadas também afeta a valorização das culturas indígenas e sua autonomia, impedindo que esses povos possam viver de acordo com suas tradições e modos de vida. Por isso, atuamos intensamente para mobilizar um número cada vez maior de pessoas a somarem forças conosco neste fortalecimento dos costumes e tradições indígenas”.
Luciana vê na parceria com o Museu do Inusitado uma forma de trazer esperança à comunidade indígena, já que a Aldeia é nova e pouco conhecida. “Ações como o Sarau e arrecadação de alimentos e outros itens contribuem para nos fortalecer através de uma troca de experiências e aprendizado mútuo. Isso é importante para manter a união e mostrar que as comunidades indígenas são respeitadas”, conclui.
Sobre o Museu do Inusitado Espaço criado oficialmente em 2015, entre as regiões do Capão Redondo e Jardim São Luís, na capital paulistana, o Museu surgiu com o intuito de atender a necessidade de infraestrutura para ensaios e reuniões de artistas e produtores culturais do entorno.
Serviço: Arrecadação de alimentos e outros itens para a Aldeia Takua Ju Mirim* Doação de produtos: fumo de corda, milho verde, farinha de trigo, fermento, leite, ovos, mandioca, batata doce, peixe, frango, mate, ferramentas para manuseio da horta e itens usados como fogão, geladeira e guarda-roupa.
Local de entrega das doações: Museu do Inusitado: Rua Rosa Honório de Jesus, 40, Capão Redondo, São Paulo
Doações em dinheiro podem ser feitas pelo pix: [email protected] Prazo das doações: até 24/03
*Ação realizada em parceria com o Edital de Apoio a Projetos Culturais de Múltiplas Linguagens - 2a edição