A Amazônia nunca esteve tão no centro das discussões como agora. De acordo com levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA), com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe/Prodes), o desmatamento em terras indígenas aumentou em 157% durante o governo do ex-presidente Bolsonaro.
Garimpo, invasões e roubo de madeira continuam assolando terras indígenas e unidades de conservação. Áreas da floresta estão sendo vendidas via leilão para empresas explorarem petróleo e gás natural.
Boa parte deste desmatamento está associada à expansão das áreas do garimpo nos territórios, mas também pela ação de madeireiros – atividades que andam lado a lado quando o assunto é invasão de terras indígenas. Entre 2010 e 2021, aponta o MapBiomas, o garimpo em terras indígenas cresceu cerca de 625%. O aumento mais expressivo ao longo dos últimos dez anos foi registrado justamente entre 2019 e 2021 e ele não está limitado às cinco terras indígenas citadas pelo relatório.
A Igreja, sempre atenta às necessidades da comunidade, desenvolve ações e cuidados especiais com os indígenas. De acordo com o assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica, a REPAM-Brasil e também da Comissão Ecologia Integral e Mineração da CNBB, padre Dário Bossi, a Igreja se aproxima desses povos em defesa da vida. “Amazônia sempre foi considerada uma terra de conquista, é pautada pelo viés do extrativismo predatório”.
“O garimpo, na verdade, é como se fosse a primeira etapa de uma invasão, que possui ciclos, onde o primeiro ciclo é a desflorestação, que depois deixa espaço ao latifúndio da soja, do boi e das siderúrgicas, como um modelo que vem avançando. Assim o garimpo entra ocupando e contaminando pequenas áreas para depois deixar abertura para outros modelos de mineração mais consistentes e impactantes e, aos poucos, ir tomando posse dos territórios, por isso, não dá para medir ou para controlar a entrada no território. Há regiões na Amazônia onde precisamos dizer não à mineração. São territórios sagrados, santuários, que precisam ser preservados”, destacou o padre.
De acordo com o MapBiomas, em relatório publicado há cinco meses, o Pará concentra o maior número de invasões em terras indígenas. Das cinco terras listadas pelo estudo, que utilizou dados de 2021, a TI Kayapó é a mais invadida, com 11.542 hectares de área de garimpo; em segundo lugar, a TI Munduruku, com 4.743 hectares de destruição. Somadas, as duas TIs concentram 16.285 hectares de áreas com lavra ilegal de ouro, o equivalente a 17 mil campos de futebol aproximadamente. Os Yanomami vêm em terceiro.
A Igreja, sempre atenta às necessidades da comunidade, desenvolve ações e cuidados especiais com os indígenas. De acordo com o assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica, a REPAM-Brasil e também da Comissão Ecologia Integral e Mineração da CNBB, padre Dário Bossi, a Igreja se aproxima desses povos em defesa da vida. “Amazônia sempre foi considerada uma terra de conquista, é pautada pelo viés do extrativismo predatório”.
Padre Dário fala sobre a importância da atuação da Igreja na região,“Há uma sensibilidade cada vez mais forte do mundo religioso sobre a importância de repensar o modelo, como dizíamos, não pode ser mais um modelo de saque e sim um modelo de reciclagem, reuso, limites e de controle dessa sania extrativa. Essa é a única maneira para permitir uma convivência equilibrada das comunidades em seus territórios”.
“A opção pelo extrativismo predatório, infelizmente, continua sendo a prioridade de muitos países na América Latina, naturalmente, empurrada por interesses de fora, ainda mais agora, neste tempo de crise, num tempo em que supostamente por necessidade de transição energética, se fazem necessários os famosos minerais estratégicos, portanto, a fronteira de busca desses minerais e de expansão do extrativismo vem ameaçando cada vez mais comunidades que não sabem como se defender. As comunidades indígenas e a Amazônia são como a última fronteira de resistência. O que deve mudar, com certeza, é o ritmo e a intensidade desse sistema extrativo, que não vai se sustentar por muito tempo, por isso, temos que aprender com os povos indígenas uma nova maneira de conviver com o meio ambiente que não seja tão vorazmente predadora dos nossos territórios”.
Para a professora Márcia Oliveira, da Universidade Federal de Roraima e assessora da REPAM-Brasil, é necessário determinar a retirada dos garimpeiros que oferecem grande risco e grande contaminação ao meio ambiente, destruição da floresta, dos rios, e dos povos que necessitam viver em paz em seus territórios e viver de forma autônoma com a soberania alimentar que eles fazem subliminarmente.
“São diversas tentativas de invasões em TI desde 2016, quando os governos Temer e após o governo Bolsonaro abriram espaços para o garimpo. São trabalhadores que são agenciados a grandes empresas ligadas ao mercado do ouro e promovem uma grande exploração do trabalho análogo ao escravo, são pessoas muito pobres entrando na região, contaminando todo território os rios com mercúrio e também contaminando com a verminose. São de 20 a 30 mil pessoas no mesmo espaço, as águas levam toda a espécie de contaminação e isso tem resultado em um surto muito grande de verminose entre os povos indígenas”, declara a professora Márcia Oliveira, assessora da REPAM-Brasil.
São muitos os religiosos e padres que atuam e moram em aldeias. A Igreja sempre se manifestou em relação ao garimpo. E grupos fizeram denúncias na Organização das Nações Unidas (ONU).