O ano é novo, mas os problemas, velhos. Muitos motoristas ainda persistem na combinação álcool e direção. Segundo resultados da Operação Ano Novo 2023, da Polícia Rodoviária Federal, houve um aumento de 70% no número de autuações de motoristas dirigindo embriagados.
Em alguns exemplos, no último dia 9, na Rodovia Presidente Dutra (SP), foi dada ordem de parada a um veículo que desobedeceu ao comando, atirou o carro contra os policiais e tentou fugir da abordagem. Durante a tentativa de fuga, o automóvel colidiu contra um barranco. No interior do veículo, foram encontradas garrafas de cerveja. No dia anterior, no Espírito Santo, um homem transportando um passageiro invadiu a contramão da via e colidiu com uma carreta. Segundo a PRF, o interior do veículo estava com forte odor de álcool e foram localizadas garrafas vazias de cachaça. O condutor e o acompanhante ficaram feridos.
Muito além de uma infração de trânsito (com multa de natureza gravíssima, no valor de R$2.934,70), a questão, tida como uma das maiores causas de acidentalidade nas rodovias, é problema de saúde pública, enfatiza o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (TRAUMA), José Octavio Soares Hungria.
Os acidentes de trânsito estão entre as principais causas de politraumatismos, situação em que dois órgãos ou mais, ou a partir de duas partes distintas do corpo, são lesionadas gravemente. “Sobreviventes de politraumatismos poucas vezes retornam à vida comum. Na maior parte dos casos, série de sequelas impactam na vida da vítima”, pontua o traumatologista. “A situação leva a uma condição de esgotamento da capacidade fisiológica de equilíbrio orgânico, o que eleva a taxa de mortalidade”, completa.
O traumatologista lembra, ainda, da sobrecarga que os acidentes de trânsito causam ao sistema de saúde, no pronto-atendimento e de internações. Um estudo de junho de 2020, intitulado “Custos dos acidentes de trânsito no Brasil: Estimativa simplificada com base na atualização das pesquisas do IPEA sobre custos de acidentes nos aglomerados urbanos e rodovias” concluiu que os acidentes em rodovias custam à sociedade brasileira cerca de R$ 40 bilhões por ano, enquanto os acidentes nas áreas urbanas, em torno de R$ 10 bilhões, “sendo que o custo relativo à perda de produção responde pela maior fatia desses valores, seguido pelos custos hospitalares”, pontua o relatório.
“É preciso, cada vez mais, a ampliação da conscientização dos condutores e de políticas específicas para reduzir acidentes, para que se possa diminuir essas alarmantes estatísticas”, finaliza.