Estimular a conscientização sobre a conservação do meio ambiente é uma diretriz prevista na legislação brasileira. A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), estabelecida pela Lei nº 9795, menciona em um dos seus artigos que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo”.
E qual é o papel do professor nesse contexto?
O tema da educação ambiental é, em grande maioria, tratado de forma “antipática” no ambiente escolar, considera o coordenador do curso de pós-graduação Educação e Meio Ambiente, da Faculdade Rudolf Steiner, em São Paulo, João Sant’Ana.
“Definições simplórias e conceitos distantes são vistos nas aulas, mas uma abordagem mais profunda, por meio de vínculo e vivências, não é realizada”, avalia.
Na visão do especialista, que também é biólogo e mestre em planejamento ambiental, para boa parte da sociedade, é predominante a percepção de que a natureza e o ser humano se encontram apenas em momentos de lazer, em interações com paisagens naturais, como em trilhas e viagens.
“A natureza está em tudo o que envolve o ser humano. No ar que respira, no que veste e em seu alimento. Assim como no clima, nos ritmos das plantações e na beleza que rege o mundo,” esclarece Sant’Ana.
O professor é capaz de exercer um papel essencial para criar essa perspectiva, contribuindo na formação de valores que reconheçam a importância da relação com a natureza e despertando a consciência sobre questões ligadas ao meio ambiente, sustentabilidade, preservação e conservação.
Quanto mais cedo princípios da educação ambiental estiverem inseridos na rotina escolar, melhor. Conforme as crianças crescem, esses fundamentos a acompanharão no desenvolvimento da vida adulta, impactando positivamente a sociedade. “Por isso, o ensino ligado à natureza deve se dar desde o maternal, por meio de vivências que aproximem a criança do mundo natural que já está ao seu entorno”, complementa.
Para colocar em prática essa aprendizagem dentro do âmbito educacional, é importante que o docente seja nutrido não só pelo conhecimento científico, mas também por vivências pessoais que reafirmem essa visão ecológica.
“O educador que se vincular de forma mais profunda e verdadeira com a natureza poderá apresentar um universo aos seus alunos de uma forma distinta, repleta de sentido. Apenas por meio do reconhecimento da natureza é que o ser humano e a sociedade poderão se relacionar de forma harmônica com o mundo natural”, analisa.
De acordo com Sant’Ana, apreciar profundamente os fenômenos da natureza, reconhecer a importância da descoberta e estar vinculado à natureza por meio de atividades constantes são algumas premissas que devem estar presentes na rotina de ensino.
Além disso, o aprimoramento e a formação acadêmica também trarão ganhos, ampliando o contato desse profissional com as mais recentes descobertas científicas relacionadas às questões ambientais, o conhecimento sobre os biomas brasileiros e sobre técnicas de manejo e bioconstrução. Aprender sobre brincadeiras, danças, culinárias e outras atividades que poderão ser utilizadas em sua prática pedagógica com crianças, jovens e adultos também estão entre os benefícios, assim como a possibilidade de se aprofundar na interação do ser humano com a natureza e ter uma perspectiva científica, poética e plástica dessa relação.
“Por ter estudado o tema com mais profundidade e dedicação, esse docente pode apresentar recortes do mundo e resultados de reflexões que podem tocar os alunos de forma mais profunda do que se imagina. Assim, professores que olham com veneração e tempo para a natureza, poderão influenciar a vida de crianças e jovens no futuro”, finaliza.