As clínicas e hospitais de transição ganharam destaque nos últimos anos ao contribuírem com o suporte terapêutico a quem sofre sequelas da Covid-19 e demanda de continuidade do cuidado pós-hospitalar. Mas algumas situações recorrentes no período de agravamento da pandemia ainda permanecem na linha de cuidados desse setor. A necessidade de se recuperar de uma traqueostomia, muitas vezes realizada no processo de internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é uma delas.
Pacientes que passam por esse procedimento cirúrgico, descrito como um orifício de abertura da traqueia (pescoço) para facilitar a chegada de ar até os pulmões, enfrentam um cenário complexo de recuperação e riscos de asfixia, infecções, danos na própria traqueia ou dificuldades na cicatrização.
Dependendo da indicação do procedimento, a traqueostomia pode ser definitiva ou temporária, ou seja, uma situação reversível, que pode levar à retirada da cânula inserida na traqueia, após o tratamento do quadro inicial que levou à necessidade do uso desse dispositivo.
Especializadas em dar continuidade aos cuidados clínicos e em processos de reabilitação, as clínicas de transição (também conhecidas como clínicas de cuidados pós-agudos) têm se tornado uma alternativa para as operadoras de planos de saúde oferecerem essa assistência de desospitalização. São instituições que reúnem não só equipes interdisciplinares especializadas em programas de recuperação e reabilitação, mas também ambiente com baixo risco de infecção e estrutura acolhedora. Além disso, oferecem mais apoio, conforto e segurança aos familiares, que muitas vezes são os acompanhantes na estada do paciente em tratamento.
Do início de 2021 a agosto de 2022, a Sainte-Marie, clínica de transição com 20 anos de atuação em São Paulo, auxiliou no tratamento de mais de 100 pacientes traqueostomizados, de adultos a idosos, que passaram pelo procedimento pelos mais variados motivos, como: complicações da covid-19, tumores na laringe, traumas de acidentes, entre outras causas.
“Geralmente, recebemos esses pacientes após um prolongado período de internação, onde eles necessitam da confecção da traqueostomia. Muitas vezes, nesta etapa do tratamento, é preciso um enfoque no cuidado interdisciplinar e de reabilitação, para a retirada desse dispositivo. Fazemos uma avaliação da condição de saúde, levando em conta vários critérios técnicos, e elaboramos um plano de reabilitação com metas clínicas que envolvem, por exemplo, a retomada de aspectos funcionais, como locomoção, deglutição e mobilidade”, explica o Dr. Felipe Vecchi, diretor médico da Clínica Sainte-Marie.
Esse processo de recuperação engloba a assistência de médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, entre outros profissionais que integram a equipe interdisciplinar.
“Nosso protocolo prevê um tempo médio de retirada de cinco dias, mas isso pode variar a depender da condição clínica do paciente. Após a retirada do dispositivo, há uma redução na complexidade de cuidados, uma melhora na qualidade de vida e a possibilidade de um melhor rendimento nas outras atividades interdisciplinares. Além disso, essa ação permite a alta e uma transição mais segura para o domicílio”, esclarece Vecchi.
Para o profissional, clínicas especializadas no conceito de transição hospitalar têm gerado benefícios significativos aos pacientes e, ao mesmo tempo, ganhos ao ecossistema de saúde. “O atendimento humanizado e o cuidado personalizado de tratamento desenvolvido pelo setor ajudam na redução do número de reinternações e no custo de serviços de saúde”, complementa.
Além de pacientes traqueostomizados, pessoas que passaram por AVC grave, infarto, fratura de fêmur, entre outras doenças, e que tiveram capacidades comprometidas, podem se beneficiar desse serviço.