A partir da necessidade de narrar e transmutar as suas vivências e experiências como mulher negra e indígena no sul do Brasil, Anis de Flor criou “FÉRTIL”. O disco é também um espaço que carrega em si a potência da denúncia, junto à uma vontade de se despir das armaduras impostas às mulheres negras e assim, assumir que não precisa ser forte o tempo todo.
“Com FÉRTIL eu aposto muito na força de expressão, na escolha de não mais calar e sim, dar voz à mim mesma, à minha jornada e aos lugares que muitas vezes me são negados. Quando comecei a escrever, não fiz isso com a intenção de transformar em música, mas aos poucos fui entendendo que uma coisa não se separava da outra, principalmente quando você reconhece sua existência como política, e se dá conta de que compartilhar suas impressões sobre as coisas pode ser acalanto e força para quem ouve e se identifica.”, explica Anis de Flor.
As cinco faixas de “FÉRTIL” narram a invisibilidade e a solidão da mulher negra nas relações em geral, e a busca interna por mecanismos de sobrevivência ao desafeto. A cantora conta que, por meio de sua música, procura falar de fé na ancestralidade, de presença, de falta, de denúncia, de força e de superação, e acredita que conseguiu encaixar estas temáticas em seu álbum de estreia.
“Eu sinto que tenho muitas coisas pra falar, e acredito que iniciar esse processo falando de coisas que não são prazerosas pra mim, pode me abrir portas e janelas pra falar também dos meus prazeres. Compor me encanta, porque acredito muito na potência do diálogo que a música cria entre nós e a nossa cabeça quando estamos abertos para isso. Acredito que é uma linguagem muito espiritual, e que os sons, as vibrações e as palavras mexem com a gente de verdade, mesmo que não estejamos conscientes disso.”, avalia Anis de Flor.
Pensar a voz como instrumento foi o ponto de partida para as referências musicais apresentadas em “FÉRTIL”. O afrobeat e as afrobrasilidades estão presentes nas canções de Anis de Flor, que transita entre o orgânico e o sintético, produzindo canções ritmadas e dinâmicas, e busca de unir os elementos clássicos e modernos para o fonograma. Desta forma, a cantora consegue unir improvisos, coros e arranjos melódicos em músicas influenciadas por nomes como Mayra Andrade, Luedji Luna, Liniker e Bob Marley.
“O movimento de aquilombar-me, me traz pertencimento, confiança e força para seguir e percorrer um caminho hostil. Em um dos Estados em que a existência e relevância de pessoas, principalmente mulheres negras e indígenas são constantemente silenciadas, ao falar de forma poética e sonora das dores e das profundas cicatrizes que o racismo infringe constantemente em pessoas não-brancas, as obras trazem à tona questões que foram cristalizadas estruturalmente e que tem urgência em serem abordadas. Como diz a maravilhosa Angela Davis, a política não se situa no pólo oposto ao de nossa vida. Querendo ou não, ela permeia nossa existência, insinuando-se nos espaços mais íntimos. Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor, e no meu contexto, principalmente, de AUTO-AMOR, pode ser revolucionário.”, finaliza Anis.
Em seus quase 10 anos de carreira como cantora profissional, Anis de Flor já se apresentou como atração de abertura para Liniker e os Caramelows, foi indicada na categoria “Melhor Intérprete”, no Festival da Canção de Balneário Camboriú (SC), e participou do Festival Sonora (Mulheres Compositoras). Em 2022, também atuou ao lado da Orquestra Camerata de Florianópolis, como vocalista no espetáculo “Bob in Camerata”
O lançamento do álbum “FÉRTIL”, da cantora Anis de Flor, foi viabilizado através do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2021, edital cultural de Santa Catarina.
FICHA TÉCNICA
A ficha técnica de “FÉRTIL” traz Anis de Flor (composições e arranjos), Dessa Ferreira (produção musical), Marissol Mwaba (direção musical), Paulo Lahude, do Ouié Estúdio (captação e mixagem) e João Milliet (masterização). O álbum também traz como artistas convidados Sam Machado, François Muleka, Alegre Corrêa e Marissol Mwaba. A pré-produção do disco foi realizada no Estúdio do Grillo, com captação e edição de vídeo por Willian Souza. O novo trabalho conta com produção executiva de Emanueli Dalsasso, com assistência de produção de Camila Thomazini. As fotografias que acompanham este trabalho são de Matheus Trindade, já o projeto gráfico é uma realização de Leo Saconatto, com maquiagem criada por Isa Souza.
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