O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), escolheu como tesoureiro de sua campanha à reeleição um dos beneficiados nas folhas de pagamento secretas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) reveladas pelo UOL.
O advogado Aislan de Souza Coelho recebeu R$ 70 mil por essa modalidade de contratação. Ele é um dos homens de confiança do braço direito de Castro, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL).
No registro de candidatura na Justiça Eleitoral, Castro indicou o advogado como administrador financeiro de sua campanha —nome técnico para o posto de tesoureiro. Coelho será o responsável pela prestação de contas de receitas e despesas da candidatura de Castro e exercerá a mesma função na de Bacellar, candidato à reeleição na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ).
Reportagens do UOL mostraram que Bacellar foi um dos articuladores dos cargos secretos na Fundação Ceperj —postos de trabalho criados sem qualquer transparência e distribuídos a aliados políticos.
Acúmulo de remunerações x Falta de transparência. Coelho recebeu R$ 10 mil por mês —entre junho e dezembro do ano passado— no Observatório Social da Operação Segurança Presente, realizado pela Uerj com recursos da Segov (Secretaria Estadual de Governo). O programa é voltado a pesquisas sobre o projeto de patrulhamento nos bairros em que o Segurança Presente foi implementado.
No momento em que foi contratado, Coelho acumulava o posto de chefe de gabinete da Segov, que era comandada justamente por Bacellar. No governo Castro, o salário dele era de R$ 18,3 mil.
Não é possível saber se Coelho continua atualmente vinculado ao programa, já que não há transparência nos pagamentos feitos pela Uerj aos contratados em projetos com descentralização de recursos do governo do estado —que somam ao menos R$ 593,6 milhões neste ano.
Procurada, a campanha de Castro disse que Coelho não é mais servidor do governo fluminense e que não presta mais nenhum tipo de serviço para o programa.
Universidade prometeu revelar folhas em setembro. A Uerj vem negando que as folhas de pagamento dos programas com transferência de recursos de outros órgãos —as quais não estão disponíveis para consulta pública— sejam secretas.
A Uerj ainda afirma que "não há ilegalidade ou anormalidade no fato de colaboradores das secretarias de Estado integrarem as equipes".
Indicação política ou processo seletivo? Entre junho e dezembro do ano passado, Coelho integrou o chamado núcleo estruturante do programa.
De acordo com regras criadas pela Uerj em 2021, contratados nessa condição não precisam nem mesmo passar por processo seletivo simplificado. A campanha de Castro afirma, contudo, que o advogado passou por processo seletivo para trabalhar no programa.
Antes da contratação na Uerj, o advogado já havia exercido cargos importantes no gabinete de Bacellar na Alerj. No início de 2019, Coelho foi nomeado como assessor parlamentar, mas assumiu o posto de chefe de gabinete em junho do mesmo ano.
Em junho de 2021, ele deixou a Alerj para acompanhar Bacellar, que fora nomeado secretário de Governo por Cláudio Castro. Na pasta, também exerceu o posto de chefe de gabinete, um dos mais importantes do órgão.
Campanha de Castro nega indicação política. O UOL questionou a campanha de Castro sobre a escolha do advogado como tesoureiro. A campanha do governador negou a existência de qualquer tipo de indicação política para o Observatório Social da Operação Segurança Presente, tocado pela Uerj.
Por meio de nota, disse também que não há conflito ético em relação à atuação de Coelho. "A lei prevê que servidores públicos realizem pesquisas científicas e de inovação, como as da Uerj."
O deputado Rodrigo Bacellar também nega indicações políticas a programas da Uerj.
A reportagem procurou o advogado Aislan Coelho por meio de rede social, mas ele não retornou.
O que se sabe sobre as folhas secretas da Uerj. No dia 13, o UOL revelou que R$ 594 milhões foram injetados somente este ano pelo governo do Rio na Uerj em 18 projetos com folhas de pagamento secretas.
A reportagem só conseguiu acesso aos dados de quatro desses programas —ainda assim referentes ao ano passado— que revelaram pagamentos a ao menos quatro pessoas ligadas a Bacellar.
Após a publicação, a universidade colocou em sigilo as poucas informações públicas que haviam sido disponibilizadas, alegando que informações pessoais não poderiam ser divulgadas.
Na lista de um dos projetos, estava o ex-vereador do Rio Daniel Marcos Barbiratto de Almeida, preso em 2018 acusado de atuar como operador de um deputado em esquema do ex-governador Sérgio Cabral, que pagava em troca de apoio político no Legislativo fluminense, segundo o MPF (Ministério Público Federal).
Somente entre junho e dezembro de 2021, ele recebeu R$ 112 mil, contratado para atuar no Observatório do Segurança Presente. Barbiratto negou ter sido contratado por indicação política e afirmou ter participado de processo seletivo. A Uerj negou qualquer irregularidade nas contratações.