Campos dos Goytacazes foi a primeira a inaugurar a iluminação pública da América latina. Mas, para entender um pouco dessa história e desse pioneirismo da nossa cidade, é preciso voltar no tempo e recapitular quais foram as formas de iluminação pública na cidade ao longo da história, do óleo de peixe até a luz elétrica. E quem conta essa história para nós é Graziela Escocard – Historiadora e Diretora do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes.
No ano de 1835, quando a Vila de São Salvador foi elevada à categoria de cidade de Campos dos Goytacazes, esta contava com a iluminação à base de azeite de peixe, colocado nos candeeiros públicos (luminárias, dispositivos que servem para distribuir, filtrar ou transformar a luz), além das velas e lampiões a querosene nas residências.
Três anos depois, em 1838, a iluminação pública passou a ser fornecida por meio de 74 lampiões, que eram diariamente acessos, das 19h até às 1h da madrugada. Obrigação essa que se cessava nas noites em que houvesse luar.
Já em 1850 foi introduzida nas casas dos campistas a luz a gás, mas somente em 1854, a Câmara Municipal convence-se de que a iluminação de azeite de peixe e de querosene era insuficiente e decide contratar esse serviço de iluminação pública a gás para atender os mais de 700 lampiões públicos. No entanto, o serviço cobria apenas a área central da cidade, sendo necessária, em 1872, a ampliação desse serviço pela “Campos Gaz Company”, que gerou a abertura de uma nova rua, como o nome de Goytacazes, conhecida como “Rua do Gás”, nome que permanece até hoje.
Eis que o gás possuía um forte concorrente: o querosene, e as dificuldades no assentamento da canalização, além dos problemas de ordem financeira envolvendo a empresa “Campos Gaz Company”, acarretaram pioneirismo na instalação de outra fonte de energia — a elétrica.
Portanto, a história da energia elétrica em nossa cidade começou em 15 de julho de 1881, quando a Câmara Municipal, pelo seu presidente Dr. Francisco Portela, propôs a substituição das duas fontes de iluminação, a gás e a querosene, que havia na cidade, pela luz elétrica.
Em sua proposta à Câmara, ele se disse responsável pela iniciativa de implantar a luz elétrica e, inclusive, alegou que haveria economia nos custos. Além disso, Portela também se mostrava preocupado como a série de acidentes graves e fatais que vinham ocorrendo na cidade. Os jornais da época, como o “Monitor Campista”, sempre traziam notícias relacionadas aos acidentes e ao número de mortes causadas por explosões de lamparinas de querosene. Acidentes esses que geralmente vitimavam as escravas que tinham a responsabilidade de acender as lamparinas.
No ano de 1883, no dia 24 de junho, D. Pedro II, considerado um grande incentivador das novas conquistas científicas, esteve em Campos para a inauguração da luz elétrica. De acordo com o memorialista Júlio Feydit, às 19 horas, as ilustres autoridades dirigiram-se à usina elétrica, “Estação da Luz Electrica”, localizada na Avenida Pedro II (Beira Rio), pouco acima da Rua do Ouvidor, e o Imperador acionou a chave, ligando a luz, e 20 mil pessoas aplaudiram, em delírio.
O fornecimento de energia elétrica abrangia os seguintes pontos: entrada da Rua dos Goytacazes, à Beira Rio; Ilha dos Lázaros; Rua Direita; Covas D’Area; Beneficência Portuguesa; Beneficência Brasileira e Coroa. Ficou estabelecido, também, que o sistema usado seria de Brush, empregando uma ou mais luzes da força total de 30 a 33 mil velas, nas alturas convenientes para a propagação, difusão melhor da luminosidade. Cabe destacar que até hoje, em frente à sede da Receita Federal em Campos dos Goytacazes, há um poste remanescente desse fato marcante na história da cidade, bem como uma placa alusiva ao evento. O poste e o local não são tombados pelo COPPAM - Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico Municipal.
O pioneirismo de Campos teve grande repercussão em todo o Brasil e no exterior. A comitiva que acompanhava D. Pedro II era integrada por jornalistas brasileiros e estrangeiros que publicaram nos jornais da época o feito extraordinário.
A visão empreendedora e a confiança no progresso fez um grupo de homens idealistas, entre eles Francisco Portela, acreditar na possibilidade de transformar a noite em dia com a utilização da energia elétrica, um novo conhecimento oriundo de uma invenção recente, proporcionando, então, a esta cidade a sempre lembrada glória de ser a primeira a contar com energia pública elétrica em toda a América Latina.