Desde o começo da pandemia entre fake news e desesperos, vemos a desvalorização dos profissionais de saúde e a calamidade do governo em que vivemos. Se tratando da saúde, o que mais vimos, além do descaso, é a falta de empatia com os profissionais da linha de frente. Nesses tempos, presenciamos palmas serem dadas a esses profissionais. Mas eles não querem palmas. Eles querem, eles precisam, que você fique em casa.
No momento, temos mais de 20 mil mortes, chegamos a mais de 330 mil casos confirmados e estamos a poucos passos de sermos o novo epicentro global. A corrida já começou há tempos e o que mais temiam já está para acontecer. A sua vida será escolhida por um médico, e ter nas mãos a decisão de quem vive ou morre é uma maldição.
Na hierarquia de uma empresa: presidente, diretor, gerente, auxiliar… logicamente, no nosso sistema de saúde temos no organograma do Brasil como gerente, o ministro da Saúde, que já foi trocado algumas vezes. Mais uma dor de cabeça para os médicos.
A situação dos médicos não para por aí, entre plantões e noites mal dormidas, entre falta de suportes e hospitais no limite, o uso da cloroquina. O remédio que é usado para a prevenção da malária teve seu protocolo alterado, nesse caso, com a autorização do paciente, o medicamento pode ser usado no tratamento contra a Covid-19.
Tudo seria lindo, como num conto de fadas, se houvesse dados comprovatórios da eficácia da droga para o tratamento da doença. Sim, para todos o efeitos, ainda não temos uma cura. Porém, com a alteração do protocolo, caso o paciente não queira o uso da cloroquina, ele pode optar no consumo do refrigerante Tubaína, como receita, o médico, cientista e presidente da república Jair Messias Bolsonaro. Contudo, vemos os médicos contra e receosos com o uso da cloroquina, já podemos colocar o novo protocolo do remédio na lista de dores de cabeça dos médicos da linha de frente.
A política, em geral, que o diga, é assustador ver que não é só a pandemia, a interferência política de decidir sobre sua vida com ou sem isolamento tem sido uma catástrofe. A política brasileira é tão conturbadora que chega ao ápice da vergonha alheia com a revista The Lancet, uma das principais revistas médicas, publicar um editorial sobre o vírus no país.
Demoramos dias e semanas para termos a chamada paz entre governadores e o presidente da república, a paz que, por um tempo, parece estar selada, ao chegarem todos numa mesma linha para o combate ao coronavírus.
Entretanto, mesmo na linha de frente, os profissionais da saúde não desistem e fazem o possível para tentar salvar a todos sem precisarem passar pela lastimável escolha de quem irá viver. Eles, assim como muitos da população brasileira, acreditam em uma cura, no poder do isolamento e que um dia voltarão a se abraçar novamente. E, para isso, eles precisam ter suas forças e sua profissão valorizadas.